Contradições e antagonismos
da cristandade brasileira. O
problema: a contradição de ser capitalista e socialista na política como
cristão. O modus operadi do primeiro,
é o dinheiro, o capital, a grande indústria; e criar uma hegemonia social,
cultural, científica, econômica, jurídica, religiosa e política (o mesmo
pretende o socialismo, a hegemonia em todas as esferas da vida humana). E disto
emana a crítica, isto é: como pode ser cristão e neste sentido, ser capitalista
ao mesmo tempo? O dinheiro, o capital acumulado é uma maldição segundo a
tradição judaico-cristã, porque acumulo é cobiça, egoísmo e, portanto, um “pecado”.
Como poderíamos chamar os hebreus que desprezando a “voz de deus” guardavam o maná
para o outro dia, segundo a tradição do êxodo? Sobre esse assunto, segundo a
bíblia hebraica muito bem trataram profetas como Isaías, Amós, Miquéias.
Contudo é precisamente nos evangelhos, o de Mateus, nele Jesus afirma que é
contraditório servir a Deus e a Mamom, isto é, o dinheiro. Em outra parte, ele
diz que os seus seguidores não podem ajuntar tesouros na terra, isto é, acumulo
de riqueza, onde a traça e a ferrugem consomem e a cobiça dos ladrões é
alimentada (Seria a inveja a causa do roubo? Isto decorrente de poucos terem
muito e, muitos terem tão pouco?). Para dizer que não sou bonzinho, o maior
divulgador e sistematizador e teólogo do cristianismo, Paulo, afirmou que o
amor, isto é, a cobiça pelo dinheiro, é a raiz de onde emanam muitos males!
Agora do lado esquerdo, enquanto a “direita cristã” descansa! O socialismo do
ponto de vista social, histórico e religioso, é bem anterior à Marx. Ideias de
libertação da escravidão que hoje estão relacionadas às esferas políticas,
religiosas, econômicas, sociais formuladas sobre a premissa de um direito, de
uma justiça, em uma teocracia divina, e por esta razão, quando no estado de
escravidão, os hebreus fundados em sua tradição, evocavam esses direitos
divinos, por liberdade e igualdade, que ecoava no êxodo, no profetismo bíblico,
e em seus escritos de sabedoria de forma que isso em sua expressão prática
seria revolucionária, viria transformar o Ocidente através do cristianismo. No
novo testamento, olhai para João, o Batista, “ouve homem maior do que ele?”
vociferou aquele que viria com essa proposta de salvação e, portanto,
libertação em todos os sentidos, trazendo o homem de volta a sua “liberdade
plena”, isto é, com Deus, consigo e, com o próximo, e nisto, afetando todas as
esferas da vida humana. Entretanto, o socialismo, ou comunismo de Marx,
constitui uma completa contradição com a tradição cristã, embora tenha uma
semelhança no que constitui aos seus ideais como: liberdade, justiça,
igualdade, mas em seu sentindo social é despedido de toda “prática religiosa”;
porém quando se refere ao cristianismo e ao judaísmo, a partir de sua crítica
da religião, e nisto eu concordo com ele quando em sua crítica diz que o deus
dos cristãos e mais precisamente os judeus (Marx era judeu) era o dinheiro, e
que ambos eram egoístas e cobiçosos, e completamente intolerantes (não foi sem
razão que Tillich o denominou de profeta). Observai na prática! Nisto na minha
perspectiva ele acertou de cheio. Porém no seu comunismo, o cristianismo, o
judaísmo, ou qualquer forma de religião, que é alienação, deveria ser destruído
da mente e da vida humana, a partir do momento em que homem voltar a girar em
torno de si mesmo e, ser o seu próprio sol. Marx defendia um humanismo pleno,
despido de toda crença e metafísica religiosa. Neste sentido como o cristão
pode ser comunista? Já que ser comunista
tanto na prática como teoricamente na perspectiva de Marx, se constitui um
ateísmo declarado e intolerante, onde não cabe nenhuma prática ou teoria, seja
ela judaica e cristã, ou qualquer forma de crença numa divindade. Como
correlacionar estas doutrinas, capitalismo e socialismo, com os evangelhos, se ambas
as doutrinas são contraditórias e antagônicas, com os evangelhos e toda
tradição profética?
Edson Pereira