Edson pereira
Introdução
Nosso texto tem basicamente dois objetivos fundantes. Primeiro trazer algumas definições sobre o termo resiliência como também algumas categorias e daí fazer algumas considerações sobre esta palavra. Segundo abordaremos algumas ações resilientes importantes para prática pastoral nas comunidades.
I. Definições e categorias do termo resiliência
Segundo o dicionário da língua portuguesa a resiliência pode ser definida a partir de duas concepções, a primeira é utilizada na física como uma “propriedade que alguns corpos apresentam de retornar à forma original após terem sido submetidos a uma deformação elástica” (HOUAISS, 2009, p.1651), a segunda é de conotação figurada que fala da “capacidade de recobrar facilmente ou se adaptar à má sorte ou as mudanças” ((HOUAISS,op. cit.).
Susana Rocca define a resiliência em dois momentos um a partir da física e ou outro dentro de uma linguagem figurada sendo que é esta segunda que queremos apresentar como a: Capacidade para desenvolver-se bem, para continuar projetando-se no futuro apesar dos acontecimentos desestabilizadores, de condições de vida difíceis e de traumas às vezes graves. É a capacidade humana universal de lidar superá-la, aprender ou mesmo ser transformado com a adversidade inevitável vida. (ROCCA, Apud, PAULA, 2013, p. 69).
Além destas definições no campo religioso a definição de Hoch é de bastante valia para nossa compreensão do termo que estamos abordando. Ele define resiliência como: “capacidade humana de extrair do íntimo do seu ser uma reserva extra de forças para superar as dificuldades” (HOCH, 2007, p. 72).
Segundo ele é como se Deus tivesse depositado no mais profundo do nosso ser um recipiente de reserva (HOCH, op. cit.). Em outras palavras é como se diante das dificuldades mais cruciantes da vida do ser humano que surgem e desembocam a fim de levar as pessoas a sucumbirem, daí em Deus o ser humano tem uma substância depositada em seu interior que lhe propicia capacidade e força para resistir e superar as dificuldades.
Segundo MCGoldrick a resiliência tem algumas categorias entre estas estão:
- O humor como capacidade de encontrar o “cômico” na própria tragédia; palavra humor deriva do latim humor, que significa líquido.
- A auto-estima inclui a avaliação subjectiva que uma pessoa faz de si mesma como sendo intrinsecamente positiva ou negativa em algum grau. O resiliente tem grande probabilidade de ter uma elevada auto-estima.
- Propósito de vida - Habitualmente, os resilientes demonstram comportamentos de espiritualidade e valores conectados com um propósito de vida.
- Iniciativa - resiliente é aquele ser humano que consegue se recuperar frente às adversidades que enfrenta na existência, seja na vida profissional, seja na vida pessoal.
- Espiritualidade - A espiritualidade é um dos caminhos que ajuda as famílias a lidar de forma mais resiliente frente aos desafios do viver, ou seja, para que as mesmas tenham mais qualidade de vida diante dos sofrimentos inerentes ao homem. (MCGOLDRICK, Apud, FERNANDES, 2012, p. 29).
Com base nestas definições e categorias da resiliência podemos chegar a algumas considerações, a primeira, é que a resiliência esta presente no mundo da física como um processo de elasticidade que provoca alterações no material, mas que permite o seu retorno original. Segundo, com relação ao ser humano, a resiliência è capacidade, força, resistência, adaptação em meio às dificuldades que o ser humano supera. Está no íntimo do ser humano numa linguagem teológica é força e energia produzida por Deus que capacita o homem a superar suas dificuldades. Além disso, a resiliência tem algumas categorias como: humor, autoestima, propósito de vida, iniciativa e espiritualidade.
II. Importância da resiliência para a prática pastoral na comunidade
Segundo Frankl o vazio existencial era um evento que caracterizava o século XX. Isso por causa de dois fatores, o primeiro de ordem biológica, ou seja, o ser humano perdeu alguns dos seus instintos que eram responsáveis de regular seus comportamentos e assegurar sua existência. O segundo esta relacionado às tradições que eram referenciais comportamentais (FRANKL, 2008, p. 131).
É sobre este segundo fator que queremos destacar. Nunca se viu uma perda de tamanha proporção como no século XXI de referenciais, ou seja, das tradições em todos os campos sejam políticos, familiares, religiosos. Além disso, os problemas de ordem econômica como falta de emprego, inflação. No social temos a violência e a criminalidade que são causadores de morte e sofrimento. Além das questões que envolvem o sofrimento por causas que humanamente falando são desconhecidas e a morte. Como podemos elaborar práticas pastorais a partir da resiliência a fim de dar sentido à vida e força as pessoas que em nossas comunidades estão envolvidas ou enfrentando estes dilemas?
Com base no texto da Professora Blanches de Paula (PAULA, 2013, p. 69) apresentaremos algumas indicações de ações resilientes que achamos fundamentais para prática pastoral em nossas comunidades.
A primeira ação resiliente é de solidariedade com as pessoas diante dos problemas. Esta palavra implica compromisso, apoio, ajuda, assistência e se identificar empaticamente com o sofrimento do outro. Segundo, ação facilitadora, ou seja, ser uma ponte, meio ou caminho que propicie as pessoas que estão sofrendo formas pelas quais possam superar suas adversidades.
Terceiro, ação pedagógica. Conscientizar as pessoas que sofrem que por meio da resiliência podemos crescer como ser humano, extrair lições para nossa vida e perceber o sentido que cada sofrimento tem de fundamental para nossa vida. E por último a ação auditiva que é a capacidade de ouvir. Em nossas comunidades geralmente as práticas pastorais são mediadas por aquilo que vemos, ou seja, aquilo que as pessoas aparentam ser e por terceiros que nos contam acerca dos outros. Porém a ação resiliente de ouvir vai direto a fonte, ou seja, as pessoas e daí procura por meio da empatia se colocar no lugar do outro(a) de forma que possa compreender e ajudar estes seres humanos a enfrentar seus problemas e dilemas agindo com amor e ser agente de fé e esperança.
Considerações Finais
A vida do ser humano é marcada por dor, sofrimento, decepções e morte. Contudo ser resiliente é quando você é submetido as mais duras e difíceis dificuldades e daí busca resistir, extrair força da fraqueza como diz o apóstolo Paulo e superar as adversidades que a vida lhe impõe. Daí, são necessárias ações resilientes em nossas práticas pastorais como solidariedade, ação facilitadora, pedagógica e auditiva para ajudar nossas comunidades que carecem de apoio e carinho.
Referências
FERNANDES, Emanoel Lino. Resiliência nas relações familiares: um estudo das práticas de aconselhamento pastoral. 2012. 95 f. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2012.
FRANKL,Viktor E. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. 25. ed. São Leopoldo: Sinodal; Petrópolis: Vozes, 2008.
HOCH, Lothar Carlos; ROCCA, Susana M. (Orgs.). Sofrimento, resiliência e fé: implicações para as relações de cuidado. São Leopoldo: Sinodal/EST, 2007.
HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.
PAULA, Blanches de. Psicologia e Religião 1.In:SANTOS, Suely Xavier dos (Org.) Sínteses teológicas / Universidade Metodista de São Paulo. 3.ed. São Bernardo do Campo : Ed. do Autor, 2013.