quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Resiliência e prática pastoral

Edson pereira
Introdução

 Nosso texto tem basicamente dois objetivos fundantes. Primeiro trazer algumas definições sobre o termo resiliência como também algumas categorias e daí fazer algumas considerações sobre esta palavra. Segundo abordaremos algumas ações resilientes importantes para prática pastoral nas comunidades. 

 I. Definições e categorias do termo resiliência 

         Segundo o dicionário da língua portuguesa a resiliência pode ser definida a partir de duas concepções, a primeira é utilizada na física como uma “propriedade que alguns corpos apresentam de retornar à forma original após terem sido submetidos a uma deformação elástica” (HOUAISS, 2009, p.1651), a segunda é de conotação figurada que fala da “capacidade de recobrar facilmente ou se adaptar à má sorte ou as mudanças” ((HOUAISS,op. cit.). 
       Susana Rocca define a resiliência em dois momentos um a partir da física e ou outro dentro de uma linguagem figurada sendo que é esta segunda que queremos apresentar como a: Capacidade para desenvolver-se bem, para continuar projetando-se no futuro apesar dos acontecimentos desestabilizadores, de condições de vida difíceis e de traumas às vezes graves. É a capacidade humana universal de lidar superá-la, aprender ou mesmo ser transformado com a adversidade inevitável vida. (ROCCA, Apud, PAULA, 2013, p. 69). 
      Além destas definições no campo religioso a definição de Hoch é de bastante valia para nossa compreensão do termo que estamos abordando. Ele define resiliência como: “capacidade humana de extrair do íntimo do seu ser uma reserva extra de forças para superar as dificuldades” (HOCH, 2007, p. 72).     
        Segundo ele é como se Deus tivesse depositado no mais profundo do nosso ser um recipiente de reserva (HOCH, op. cit.). Em outras palavras é como se diante das dificuldades mais cruciantes da vida do ser humano que surgem e desembocam a fim de levar as pessoas a sucumbirem, daí em Deus o ser humano tem uma substância depositada em seu interior que lhe propicia capacidade e força para resistir e superar as dificuldades. Segundo MCGoldrick a resiliência tem algumas categorias entre estas estão: 
  - O humor como capacidade de encontrar o “cômico” na própria tragédia;   palavra humor deriva do latim humor, que significa líquido. - A auto-estima inclui a avaliação subjectiva que uma pessoa faz de si mesma como sendo intrinsecamente positiva ou negativa em algum grau. O resiliente tem grande probabilidade de ter uma elevada auto-estima. - Propósito de vida - Habitualmente, os resilientes demonstram comportamentos de espiritualidade e valores conectados com um propósito de vida. - Iniciativa - resiliente é aquele ser humano que consegue se recuperar frente às adversidades que enfrenta na existência, seja na vida profissional, seja na vida pessoal. - Espiritualidade - A espiritualidade é um dos caminhos que ajuda as famílias a lidar de forma mais resiliente frente aos desafios do viver, ou seja, para que as mesmas tenham mais qualidade de vida diante dos sofrimentos inerentes ao homem. (MCGOLDRICK, Apud, FERNANDES, 2012, p. 29). 
       Com base nestas definições e categorias da resiliência podemos chegar a algumas considerações, a primeira, é que a resiliência esta presente no mundo da física como um processo de elasticidade que provoca alterações no material, mas que permite o seu retorno original. Segundo, com relação ao ser humano, a resiliência è capacidade, força, resistência, adaptação em meio às dificuldades que o ser humano supera. Está no íntimo do ser humano numa linguagem teológica é força e energia produzida por Deus que capacita o homem a superar suas dificuldades. Além disso, a resiliência tem algumas categorias como: humor, autoestima, propósito de vida, iniciativa e espiritualidade. 
 II. Importância da resiliência para a prática pastoral na comunidade 
        Segundo Frankl o vazio existencial era um evento que caracterizava o século XX. Isso por causa de dois fatores, o primeiro de ordem biológica, ou seja, o ser humano perdeu alguns dos seus instintos que eram responsáveis de regular seus comportamentos e assegurar sua existência. O segundo esta relacionado às tradições que eram referenciais comportamentais (FRANKL, 2008, p. 131).
         É sobre este segundo fator que queremos destacar. Nunca se viu uma perda de tamanha proporção como no século XXI de referenciais, ou seja, das tradições em todos os campos sejam políticos, familiares, religiosos. Além disso, os problemas de ordem econômica como falta de emprego, inflação. No social temos a violência e a criminalidade que são causadores de morte e sofrimento. Além das questões que envolvem o sofrimento por causas que humanamente falando são desconhecidas e a morte. Como podemos elaborar práticas pastorais a partir da resiliência a fim de dar sentido à vida e força as pessoas que em nossas comunidades estão envolvidas ou enfrentando estes dilemas? 
          Com base no texto da Professora Blanches de Paula (PAULA, 2013, p. 69) apresentaremos algumas indicações de ações resilientes que achamos fundamentais para prática pastoral em nossas comunidades.
       A primeira ação resiliente é de solidariedade com as pessoas diante dos problemas. Esta palavra implica compromisso, apoio, ajuda, assistência e se identificar empaticamente com o sofrimento do outro. Segundo, ação facilitadora, ou seja, ser uma ponte, meio ou caminho que propicie as pessoas que estão sofrendo formas pelas quais possam superar suas adversidades. 
        Terceiro, ação pedagógica. Conscientizar as pessoas que sofrem que por meio da resiliência podemos crescer como ser humano, extrair lições para nossa vida e perceber o sentido que cada sofrimento tem de fundamental para nossa vida. E por último a ação auditiva que é a capacidade de ouvir. Em nossas comunidades geralmente as práticas pastorais são mediadas por aquilo que vemos, ou seja, aquilo que as pessoas aparentam ser e por terceiros que nos contam acerca dos outros. Porém a ação resiliente de ouvir vai direto a fonte, ou seja, as pessoas e daí procura por meio da empatia se colocar no lugar do outro(a) de forma que possa compreender e ajudar estes seres humanos a enfrentar seus problemas e dilemas agindo com amor e ser agente de fé e esperança.
   Considerações Finais 
     A vida do ser humano é marcada por dor, sofrimento, decepções e morte. Contudo ser resiliente é quando você é submetido as mais duras e difíceis dificuldades e daí busca resistir, extrair força da fraqueza como diz o apóstolo Paulo e superar as adversidades que a vida lhe impõe. Daí, são necessárias ações resilientes em nossas práticas pastorais como solidariedade, ação facilitadora, pedagógica e auditiva para ajudar nossas comunidades que carecem de apoio e carinho. 
     Referências 
   FERNANDES, Emanoel Lino. Resiliência nas relações familiares: um estudo das práticas de aconselhamento pastoral. 2012. 95 f. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2012. 
   FRANKL,Viktor E. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. 25. ed. São Leopoldo: Sinodal; Petrópolis: Vozes, 2008. 
   HOCH, Lothar Carlos; ROCCA, Susana M. (Orgs.). Sofrimento, resiliência e fé: implicações para as relações de cuidado. São Leopoldo: Sinodal/EST, 2007. 
   HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009. 
   PAULA, Blanches de. Psicologia e Religião 1.In:SANTOS, Suely Xavier dos (Org.) Sínteses teológicas / Universidade Metodista de São Paulo. 3.ed. São Bernardo do Campo : Ed. do Autor, 2013.

domingo, 25 de janeiro de 2015

E agora, quem poderá nos defender?






Edson Pereira



         Desde a minha infância quando assistia ao seriado do Chaves tinha um personagem denominado de Chapolin que sempre quando alguém estava em perigo gritava: “E AGORA, QUEM PODERÁ NOS DEFENDER?” De repente surgia aquela criatura com roupa vermelha e engraçada que tomava sobre si a responsabilidade de salvar as pessoas em perigo com a seguinte expressão: “EU, CHAPOLIN COLORADO”!
               Esta mesma expressão me veio à mente diante das notícias no jornal televisivo, internet e todos os meios de comunicação ligada à mesma – Terrorismo, fanatismo religioso, corrupção, injustiças, crises em todas as esferas, política internacional e nacional em colapso (muitos vão dizer é o apocalipse, rss). E agora, quem poderá nos defender? Eita (sou nordestino, paraibano da gema) que a fila de heróis é grande! Por isso vou começar pela ordem espiritual que esta mais “ligada às coisas de Deus” e depois para esfera terrena. (lembrando que estas duas esferas é teologia platônica adotada pela maioria da cristandade).
              Vou me deter às duas expressões religiosas da minha nação que estou relacionado que é a maioria e, portanto gozam de maior “credibilidade”. Em primeiro lugar temos o Catolicismo Romano. Seu maior representante está na pessoa do Papa Francisco, figura carismática e política de grandes gestos dignos de louvor. E neste sentido tiro o chapéu. Mas será que agora poderá nos defender? A resposta é não.
           Primeiro porque o catolicismo tem grandes problemas internos, por mais que sejam os esforços teológicos, morais e políticos alcançados por Francisco, este não alcançará seus objetivos pelo menos a médio ou em longo prazo. Em segundo lugar, vejo o Catolicismo como uma grande expressão ou força política de grande influência, contudo lhe falta poder espiritual que possibilite mudanças holísticas e não só políticas e sociais. Falta-lhe humildade para desfazer-se de jugos sem sustentação (a exemplo do celibato obrigatório para os padres e outras questões teológicas que estão relacionadas com a Reforma Protestante que não vou mencionar por falta de espaço) teológica que são responsáveis de criar e manter uma moralidade ou dedicação como queiram chamar que muitas vezes macula e distorce a natureza humana e prejudica a vida de muitas pessoas direta ou indiretamente.
           Vamos para a segunda! Aí o problema se agrava! Porque são tantos braços que emanam deste rio. Refiro-me aos herdeiros da Reforma Protestante (se é que são mesmo... pelo menos é o que dizem... mas deixa pra lá!). No Brasil queria dividi-los em quatro expressões: Protestantismo histórico ou de missão, Evangelicalismo, Pentecostalismo e Neopentecostalismo. E aqui minha fala vai se dirigir principalmente aos “líderes, pastores, teólogos e companhia LTDA”. Que pelos meios de comunicação trazem belas mensagens (me refiro a mensagens pregada pela minoria que pelo menos sabe o que é um sermão, rss...) que “tocam a existência de muita gente”. São arautos da “reta doutrina” (homenagem a Rubem Alves), “conhecedores de toda verdade, trazem Deus a terra, enriquecem e curam muita gente, moral ilibada” e tudo de bom que se possa imaginar... (lembrete! Não estou generalizando) Contudo, percebo que por mais que cresçam os números de membros (esse crescimento dizem eles que é ação de Deus, já alguns mais desconfiados (como eu) apontam esse crescimento como concorrência para obtenção de poder, disputa por território e mercado lucrativo) das várias denominações é perceptível à distância entre estes e a igreja Neotestamentária. E como!           Primeiro no testemunho. Estes líderes pregam uma moral ilibada que é de provocar arrepios, contudo na prática não passa de hipocrisia mascarada de santidade. Vou dá apenas um exemplo que é de âmbito político-social. Qual a influência que estes líderes têm diante desta nação? Quem deles poderá nos defender? A mensagem deles é muito bonita, mas não tem efeito, falta-lhes autoridade, vida e não me venha com esta estória sem fundamento de que Deus que só quer a alma. Por isso, são vozes ineficazes. Dentro de um âmbito internacional é perceptível essa mesma doença no Protestantismo. Muitos fazem até denuncias contra o terrorismo e perseguições religiosas aos cristãos, mas não tem efeito. Os mais espirituais e apocalípticos vão dizer que tudo isso é sinal da volta de Cristo ou colocam a culpa no demônio. Mas se estes deixassem o orgulho e a hipocrisia de lado e percebesse que lhes faltam aquilo que Cristo e os primeiros cristãos tinham – autoridade, testemunho e amor - nosso mundo com certeza seria diferente. Por esta razão, eles não podem nos defender. O catolicismo ainda tem pelo menos influência político-social neste torrão de mundo (embora não sejam essas coisas todas, mas pelo menos fazem alguma coisa). E vocês arautos da verdade Protestante? Que nos representam o que tem a fazer e a dizer?
          Vamos deixar este plano “espiritual” e vamos para o “terreno”. No terreno os heróis são muitos. Vou apresentar aqueles que considero mais influentes e importantes, que muitos acreditam piamente que eles podem nos defender. Será?
          Vamos começar pelo Estado, política e governo. Que estão intrinsecamente relacionados. Meu Deus! E agora José? (Drummond) será que eles poderão nos defender? Não, sinceramente não. No Brasil (e outros países) estas três farinhas (Estado, política e governo) do mesmo saco estão no poço sem fundo, em um caos que aparenta não haver mais retorno – corrupção, lei a serviço dos corruptos e poderosos, injustiças, falta de saúde, falta de segurança, carga tributária elevada e etc. – Vou parar de citar porque a lista é grande! Os partidos políticos todos estão do lado daquilo que lhes importa – o poder - e não o povo, a democracia, a justiça, a igualdade, etc. O governo atual aproveitando-se da política do assistencialismo ou como disse Lula “o grande arauto e representante do povo brasileiro” que o povo não vota com a cabeça, mas com a barriga (a profecia se cumpriu) criou um circulo vicioso principalmente nas famílias de baixa renda e de dependência (pior que as drogas psicotrópicas) cuja evidência ou manifestação é visível no fanatismo político engendrados por políticos e companhia LTDA. Outros ainda acreditam em modelos rabugentos como comunismo ou de direita (direita e esquerda de que homi?).
          Outros, porém vão colocar na Educação a esperança de que ela poderá nos defender. Será? Por ventura nossas escolas e Universidades (com exceção de algumas) educam de verdade? Acredito que não. Em primeiro lugar nossa educação é apenas repetição e não espaço de criação. Desde pequeno sem saber começamos a aprender o alfabeto do papagaio e posteriormente nas universidades à língua dos spermologos (aquele que repassa ideias como mercadorias de segunda mão, e tem muito jovem besta que se acha intelectual, quanta ingenuidade e ignorância!). Depois todo mundo sai feliz da vida porque se “formou”, tem um diploma e é alguém na vida (e antes era o que?).
         Em segundo lugar essa nossa Educação não passa de uma comida podre e enlatada que nos foi imposta ou como diria Ivan Illich um currículo oculto. É nesse tipo de Educação que podemos esperar e assim ter um mundo ou sociedade melhor? Além disso, nossa Educação esta a serviço do Estado e do mercado capitalista que dita às normas e regras e o resultado é aquilo que Aldous Huxley descreveu em seu belo texto: Admirável Mundo Novo que de forma indescritível e vaticinante apresenta nosso mundo ou pessoas sendo controlados como robôs a serviço da ideologia dominante.
         Ora quem esta lendo este texto deve estar pensando... Esse camarada tá frustrado da vida ou não crê em nada. Deve ser ateu! Vixe! Ia esquecendo, têm os humanistas, os ateus. Estes colocam esperança na razão humana, na ciência, no progresso cientifico. E não posso discordar de que a racionalidade e ciência são fundamentais e tem ajudado e muito a humanidade (discordo com estes ao colocarem em cheque a não evidência da existência de Deus, como se Deus fosse um objeto que a partir da ciência empírica pudesse ser investigado). Contudo, foram contaminados, se venderam, trocaram a busca pela verdade por dinheiro, tornaram-se escravos das grandes indústrias capitalistas. E hoje é usada como petição de autoridade com objetivos comerciais a fim de vender determinadas marcas de produtos. Por isso afirmo: não podem nos defender!
          E agora, quem poderá nos defender? Sobrou algum herói? Você deve estar se perguntando??? Sim, A resposta está numa sociedade despida destas utopias políticas, estatais, religiosas, educacionais e qualquer outras que buscam domesticar e alienar as pessoas as estas ideologias que buscam suprimir o espírito livre e a criatividade do gênio e do homem superior (Nietzche) que não se prende a ídolos ocos cujo objetivo é ludibriar, massificar e criar um rebanho em série que pense a partir de suas verdades ideológicas. O que nós precisamos é de uma sociedade livre, forte, vigorosa, autônoma. Que a partir da reflexão critica e contextual busque superar seus limites e assim transcende-los. Só assim poderemos nos defender  e engendrar uma sociedade forte e autônoma. 

Fundo do Poço


Edson Pereira

              No fundo do poço tudo é úmido, frio, escuro, apertado. Não há perspectiva. Tudo é triste, sem sentido, sem propósito, sem esperança. No fundo do poço somos atacados pela consciência que aponta nossas fraquezas, mazelas e fragilidades. Que resultam de nossas ações e nos arrastam para as suas profundezas. Nossos demônios íntimos aparecem e tornam nossa dor insuportável a ponto de perdemos a esperança. No fundo do poço e só no fundo do poço a ficha cai, percebemos o quão somos frágeis, limitados e necessitados de ajuda. A única esperança vem de cima, do alto. E nessas horas que como um filme percebemos a importância da vida, família, trabalho, saúde e amigos. Deus torna-se prioridade e não algo a margem. No fundo do poço entendemos que só com Deus a vida tem sentido e valor. No fundo do poço nossas mascaras caem e fica patente realmente quem somos. É no fundo do poço que somos depurados e nossa condição verdadeira se revela. É no fundo do poço que temos que decidir se vamos permanecer chafurdados na lama e escuridão do poço ou vamos buscar em Deus nosso refúgio e direção. É difícil a vida no fundo do poço, mas é nessa condição que percebemos a altitude e grandeza do amor gracioso de Deus nos que envia sua corda (Jesus) para nos salvar e nos dá uma nova vida.