Edson Pereira
Introdução
Nosso texto esta dividido em três momentos. No
primeiro, faremos uma análise sobre dois textos que tratam da criatividade. O
primeiro de Ostrower que apresenta a criatividade como
um fenômeno universal. O segundo é de I.
B. Nuñez e F. A. A. Santos que desloca a criatividade para o campo da educação.
Além disso faremos comparações, o ano, o público alvo, o gênero, as razões e
conclusões de ambos os textos.
Depois em díalogo
com ambos os textos faremos ou apresentaremos algumas definições relacionadas a
criatividade. E por último falaremos da criatividade no espaço escolar. E para
isso tomaremos a estória de Nietzsche sobre as três metamorfoses do espírito
como referencia para o desenvolvimento do docente em seu processo de criatividade.
I.
A universalidade da criatividade e a criatividade na
educação
Neste tópico faremos uma breve análise
de dois textos, ambos relacionados ao tema criatividade. Por isso, em primeiro
lugar, faremos algumas comparações dos dois textos relacionados à criatividade.
Em segundo lugar, apresentaremos o ano em que ambos os textos foram escritos.
Em seguida, o público alvo, a formatação dos textos. Quarto, as razões pelas
quais abordaram o tema e suas conclusões. Para melhor desenvolvermos este
assunto abordaremos em primeiro lugar o texto de Ostrower que tem como título: Criatividade e processos de criação. E
na sequência abordaremos o texto de I. B. Nuñez e F. A. A. Santos, que tratam
sobre: O professor e a formação docente:
a criatividade e as crenças educativas onde estão? Ambos respondendo ou
seguindo a ordem exposta no início deste parágrafo. Com uma única exceção que é
o caso das comparações que serão feitas em conjunto.
Comparando os textos percebemos que
ambos tratam de um mesmo assunto – a criatividade. Contudo, para Ostrower
(1987, p. 5) a criatividade é uma potencialidade inerente ao ser humano e não
apenas à alguns como se a criatividade fosse algo limitado. Isto significa que
a criatividade é um substantivo de caráter universal. Mesmo definindo e
descrevendo conceitos de criatividade como um fenômeno universal os autores I.
B. Nuñez e F. A. A. Santos deslocam a criatividade para o âmbito da educação e
mais especificamente para a formação do professor e de sua atuação na academia
(NUÑEZ e SANTOS, 2012 p. 148-153).
O texto de Ostrower teve sua primeira
edição publicada para o público brasileiro no ano de 1977 pela editora Imago de
acordo com a edição catalográfica do livro que foi publicado posteriormente pela
Editora Vozes no ano de 1987, cujo texto tomamos por referência.
Segundo Ostrower (1987, p.6) seu texto
“se destina às pessoas que se fazem perguntas” que neste caso é sobre a
criatividade. Por isso podemos inferir a partir de sua fala que este público é
geral é que o formato do texto em apreço é um tópico ou capítulo do livro que
tem como título: Potencial (OSTROWER, 1987, p. 9).
As razões, motivações e consequentes
conclusões que levaram a autora na elaboração deste texto foram: o ser humano
como ser criativo que é forjado dentro do seu contexto cultural a partir das
necessidades inerentes a sua existência que serão determinantes para o
desenvolvimento da criatividade (OSTROWER, 1987, p. 5) e logo conclui: “a
criatividade é a essencialidade do humano no homem. Ao exercer o seu potencial
criador, trabalhando, criando em todos os âmbitos do seu fazer, o homem
configura a sua vida e lhe da um sentido”.
O texto dos autores I. B. Nuñez e F.
A. A. Santos foi publicado no ano de 2012. Seu público alvo são educadores,
professores, estudantes da educação (NUÑEZ e SANTOS, 2012, p. 148). Sua
formatação é denominada de artigo científico.
As razões, motivações e conclusões
delineadas no texto têm como objetivo: “refletir sobre a criatividade e as
crenças como elementos da formação docente e da atuação profissional do
professor” (NUÑEZ e SANTOS, 2012, p. 148). Por isso concluem:
Sendo
assim, torna-se latente a necessidade de os professores se autoformarem na
perspectiva do ensino criativo. Entretanto, não serão somente os cursos de
formação, mas sim, cursos e experiências que os motivem e fundamentem,
sobretudo que possibilitem a refletir sobre as crenças que orientam os
professores em relação à importância e a fundamentação teórico-metodológica da
criatividade no processo de ensino-aprendizagem (NUÑEZ e SANTOS, 2012, p.
163-164).
II.
Diálogos
sobre a criatividade
As interlocuções são fundamentais para
o desenvolvimento e ampliação da reflexão, da crítica e de novas formas de vê e
interpretar o nosso cosmo interno e externo, o que contribui ou desemboca na
aprendizagem. Por isso neste tópico em diálogo com Ostrower e I. B. Nuñez e F.
A. A. Santos conceituaremos sobre a criatividade. Primeiro abordaremos o
conceito de criatividade segundo Ostrower e na sequência como I. B. Nuñez e F.
A. A. Santos definem a criatividade.
Segundo Ostrower (1987, p. 9) a
criatividade pode ser definida em seu sentido básico coma ideia de formar. É
elaborar algo novo. Novo, se refere a novas possibilidades lógicas dirigidas à mente
humana. Que se apresentam de forma nova com base naquilo que foi apreendido.
Logo a criatividade envolve dimensões que seguem uma sequência encadeada que
atingem: a compreensão, o ato de relacionar, ordenar, configurar e dar sentido.
Este ato criador, podemos dizer a luz do tópico ou capítulo analisado (OSTROWER,
1987, p. 9-30), tem como matéria prima potencialidades que foram elaborados
pelo ser humano ao logo de sua evolução.
Para I. B. Nuñez e F. A. A. Santos (2012,
p. 150-150) a
criatividade é caminho, trajeto percorrido na história e na cultura tendo a Grécia
antiga como ponto de partida e que está em andamento até os dias atuais. Neste
sentido a criatividade é produção que gera novidades que estão relacionadas ao
contexto histórico e social. A criatividade é mola propulsora para motivar e
gerar mudanças na sociedade. É dinâmica e interativa. É instrumento fundamental
para construção ou desenvolvimento tanto coletivo como individual dos seres
humanos. E contribui para o estabelecimento do bem estar social, de mudanças
significativas e de conscientizar o ser humano da sua capacidade de pensar e
raciocinar e consequentemente fazer intervenções em todas as dimensões em que
está inserido.
III.
A criatividade no espaço escolar
Nietzsche em sua magnífica e
emblemática obra: Assim falava Zaratustra,
na primeira parte desta obra ela fala das três metamorfoses do espírito. Que
tomaremos como base para abordar sobre a questão da criatividade no espaço
escolar. Que neste caso o professor-estudante estão envoltos em uma pericorese
dinâmica e que se faz necessário passar por estágios que serão fundamentais
para o desenvolvimento da criatividade.
Nietzsche apresenta três momentos da
existência humana que podemos ilustrar como o caminho que o ser humano percorre
para tornar-se um ser criativo. E em nosso caso a trajetória que o docente no
desenvolvimento e estabelecimento da aprendizagem percorre em busca da
criatividade. Segundo nossa visão o espaço escolar não é um lugar de repetir
informações ditas ou impostas por docentes ou currículos. Mas espaço de
criação, alquimia que através das fontes teóricas permitem que professores e
estudantes façam, desenvolvam, gerem, criem novas possibilidades a partir
daquilo que foi colocado ou apresentado no laboratório daquilo que chamamos:
sala de aula.
Segundo Nietzsche (2011, p. 29-31) o
espírito quando em processo de transformação é no seu primeiro estágio um
camelo. Que se submete a todo tipo de cargas pesadas, contudo não impedem que o
camelo alcance o seu objetivo que é alcançar o deserto. No segundo momento o
espírito tem a personificação de um leão que denota força, desejo, impulso,
vontade de liberdade e ser autônomo. Por isso enfrenta o dragão que representa
todos os sistemas que podemos denominar de heterônomos. Responsáveis de criar e
impor regras e assim limitar ou restringir à liberdade que é inerente a pessoa
humana. Por último temos o ser humano personificado em uma criança. Que vive a
vida sem culpa, que não vive ou se alimenta de memórias passadas, mas vive se
reinventado, sabe o que quer e ocupa seu espaço em um mundo independente e
marcado pela criatividade.
A partir desta estória podemos
identificar os caminhos ou desafios que os (as) professores (as) em sala de
aula ou na vida pessoal devem transitar para desenvolverem a criatividade nos
espaços escolares.
O primeiro caminho é o de suportar com
resiliência as várias cargas que lhes são impostas ao logo da sua jornada.
Sejam as cargas: da falta de material escolar, recursos tecnológicos, a
violência, os salários atrasados, a falta de apoio pedagógico e moral e tudo
aquilo que tente rebaixá-lo (a) a ponto de impedir sua chegada ao deserto. Por
isso o docente deve suportar até o fim.
Segundo, deve ter a coragem do leão
para dizer não as ideologias repressoras que impõe heteronomias que visam
limitar e até mesmo restringir a liberdade de pensar e criar por si mesmo. Como
é o caso das teorias de ensino, e currículos enrijecidos.
Por isso o docente precisa ser
criança, não ter medo de errar, mas reinventar sempre, tornar o espaço escolar
em jogo, brinquedo e assim como a criança criar e desenvolver a partir daquilo
que dispõe (materiais disponíveis em sala de aula) novas possibilidades,
caminhos... Que o espaço escolar assim como o ato de brincar seja prazeroso e
inovador para a elaboração de novas possibilidades de aprendizagem a partir da
criatividade fomentada em sala de aula.
Considerações que não esgotam a
criatividade
A criatividade não é algo que está
condicionado a alguns. Como se estes fossem entes especiais, escolhidos,
privilegiados e, portanto só nestes podemos encontrar desiderato da
criatividade. A criatividade surge do instinto, da razão, do desejo, das
circunstâncias da vida seja pessoal, social, histórico e cultural. Por isso a
criatividade é um fenômeno universal.
Neste
sentido a criatividade é caminho, que evolui e como um rio tem muitos braços e
leitos. Que movida pelas circunstâncias existenciais promove mudanças,
rupturas, reinventa-se e cria novas formas, possibilidades por meio de sua
dinamicidade, contextualidade e interatividade.
Por
isso os docentes devem perceber que a criatividade não algo que caiu do céu e
logo como um dom foi concedido a alguns iluminados. Pelo contrário devem
entender que a criatividade é inerente a cada ser humano e que estes devem
desenvolver este instrumento para seu desenvolvimento como ser humano e
profissional.
Para isso se faz necessário um
processo transformador que venha desembocar numa criatividade despida de cargas
e imposições heterônomas que perturbam e restringem a ação de criar. E só assim
como uma criança poderá fazer, criar e gerar em seu laboratório (sala de aula)
novos caminhos e possibilidades para uma melhor aprendizagem.
Referências
NIETZSCHE, Friedrich.
Assim falava Zaratustra: um livro para
todos e para ninguém. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. (Coleção Vozes de Bolso)
NUÑEZ, I. B.; SANTOS, F. A. A. O Professor e a Formação
Docente: a
criatividade e as crenças educativas onde estão? Holos,
Natal a. 28, v. 2,
2012.
OSTROWER, Fayga. Criatividade e Processos de Criação.
Petrópolis:
Vozes, 1987