segunda-feira, 25 de maio de 2015

A criatividade no espaço escolar

Edson Pereira

 Introdução


Nosso texto esta dividido em três momentos. No primeiro, faremos uma análise sobre dois textos que tratam da criatividade. O primeiro de  Ostrower que apresenta a criatividade como um fenômeno universal. O segundo é  de I. B. Nuñez e F. A. A. Santos que desloca a criatividade para o campo da educação. Além disso faremos comparações, o ano, o público alvo, o gênero, as razões e conclusões de ambos os textos.
Depois em díalogo com ambos os textos faremos ou apresentaremos algumas definições relacionadas a criatividade. E por último falaremos da criatividade no espaço escolar. E para isso tomaremos a estória de Nietzsche sobre as três metamorfoses do espírito como referencia para o desenvolvimento do docente em seu processo de criatividade.   

I.             A universalidade da criatividade e a criatividade na educação

Neste tópico faremos uma breve análise de dois textos, ambos relacionados ao tema criatividade. Por isso, em primeiro lugar, faremos algumas comparações dos dois textos relacionados à criatividade. Em segundo lugar, apresentaremos o ano em que ambos os textos foram escritos. Em seguida, o público alvo, a formatação dos textos. Quarto, as razões pelas quais abordaram o tema e suas conclusões. Para melhor desenvolvermos este assunto abordaremos em primeiro lugar o texto de Ostrower que tem como título: Criatividade e processos de criação. E na sequência abordaremos o texto de I. B. Nuñez e F. A. A. Santos, que tratam sobre: O professor e a formação docente: a criatividade e as crenças educativas onde estão? Ambos respondendo ou seguindo a ordem exposta no início deste parágrafo. Com uma única exceção que é o caso das comparações que serão feitas em conjunto.
Comparando os textos percebemos que ambos tratam de um mesmo assunto – a criatividade. Contudo, para Ostrower (1987, p. 5) a criatividade é uma potencialidade inerente ao ser humano e não apenas à alguns como se a criatividade fosse algo limitado. Isto significa que a criatividade é um substantivo de caráter universal. Mesmo definindo e descrevendo conceitos de criatividade como um fenômeno universal os autores I. B. Nuñez e F. A. A. Santos deslocam a criatividade para o âmbito da educação e mais especificamente para a formação do professor e de sua atuação na academia (NUÑEZ e SANTOS, 2012 p. 148-153).
O texto de Ostrower teve sua primeira edição publicada para o público brasileiro no ano de 1977 pela editora Imago de acordo com a edição catalográfica do livro que foi publicado posteriormente pela Editora Vozes no ano de 1987, cujo texto tomamos por referência.
Segundo Ostrower (1987, p.6) seu texto “se destina às pessoas que se fazem perguntas” que neste caso é sobre a criatividade. Por isso podemos inferir a partir de sua fala que este público é geral é que o formato do texto em apreço é um tópico ou capítulo do livro que tem como título: Potencial (OSTROWER, 1987, p. 9).
As razões, motivações e consequentes conclusões que levaram a autora na elaboração deste texto foram: o ser humano como ser criativo que é forjado dentro do seu contexto cultural a partir das necessidades inerentes a sua existência que serão determinantes para o desenvolvimento da criatividade (OSTROWER, 1987, p. 5) e logo conclui: “a criatividade é a essencialidade do humano no homem. Ao exercer o seu potencial criador, trabalhando, criando em todos os âmbitos do seu fazer, o homem configura a sua vida e lhe da um sentido”.  
O texto dos autores I. B. Nuñez e F. A. A. Santos foi publicado no ano de 2012. Seu público alvo são educadores, professores, estudantes da educação (NUÑEZ e SANTOS, 2012, p. 148). Sua formatação é denominada de artigo científico.
As razões, motivações e conclusões delineadas no texto têm como objetivo: “refletir sobre a criatividade e as crenças como elementos da formação docente e da atuação profissional do professor” (NUÑEZ e SANTOS, 2012, p. 148). Por isso concluem:
Sendo assim, torna-se latente a necessidade de os professores se autoformarem na perspectiva do ensino criativo. Entretanto, não serão somente os cursos de formação, mas sim, cursos e experiências que os motivem e fundamentem, sobretudo que possibilitem a refletir sobre as crenças que orientam os professores em relação à importância e a fundamentação teórico-metodológica da criatividade no processo de ensino-aprendizagem (NUÑEZ e SANTOS, 2012, p. 163-164).

II.                 Diálogos sobre a criatividade
As interlocuções são fundamentais para o desenvolvimento e ampliação da reflexão, da crítica e de novas formas de vê e interpretar o nosso cosmo interno e externo, o que contribui ou desemboca na aprendizagem. Por isso neste tópico em diálogo com Ostrower e I. B. Nuñez e F. A. A. Santos conceituaremos sobre a criatividade. Primeiro abordaremos o conceito de criatividade segundo Ostrower e na sequência como I. B. Nuñez e F. A. A. Santos definem a criatividade.
Segundo Ostrower (1987, p. 9) a criatividade pode ser definida em seu sentido básico coma ideia de formar. É elaborar algo novo. Novo, se refere a novas possibilidades lógicas dirigidas à mente humana. Que se apresentam de forma nova com base naquilo que foi apreendido. Logo a criatividade envolve dimensões que seguem uma sequência encadeada que atingem: a compreensão, o ato de relacionar, ordenar, configurar e dar sentido. Este ato criador, podemos dizer a luz do tópico ou capítulo analisado (OSTROWER, 1987, p. 9-30), tem como matéria prima potencialidades que foram elaborados pelo ser humano ao logo de sua evolução.
Para I. B. Nuñez e F. A. A. Santos (2012, p. 150-150) a criatividade é caminho, trajeto percorrido na história e na cultura tendo a Grécia antiga como ponto de partida e que está em andamento até os dias atuais. Neste sentido a criatividade é produção que gera novidades que estão relacionadas ao contexto histórico e social. A criatividade é mola propulsora para motivar e gerar mudanças na sociedade. É dinâmica e interativa. É instrumento fundamental para construção ou desenvolvimento tanto coletivo como individual dos seres humanos. E contribui para o estabelecimento do bem estar social, de mudanças significativas e de conscientizar o ser humano da sua capacidade de pensar e raciocinar e consequentemente fazer intervenções em todas as dimensões em que está inserido.

III.           A criatividade no espaço escolar

Nietzsche em sua magnífica e emblemática obra: Assim falava Zaratustra, na primeira parte desta obra ela fala das três metamorfoses do espírito. Que tomaremos como base para abordar sobre a questão da criatividade no espaço escolar. Que neste caso o professor-estudante estão envoltos em uma pericorese dinâmica e que se faz necessário passar por estágios que serão fundamentais para o desenvolvimento da criatividade.
Nietzsche apresenta três momentos da existência humana que podemos ilustrar como o caminho que o ser humano percorre para tornar-se um ser criativo. E em nosso caso a trajetória que o docente no desenvolvimento e estabelecimento da aprendizagem percorre em busca da criatividade. Segundo nossa visão o espaço escolar não é um lugar de repetir informações ditas ou impostas por docentes ou currículos. Mas espaço de criação, alquimia que através das fontes teóricas permitem que professores e estudantes façam, desenvolvam, gerem, criem novas possibilidades a partir daquilo que foi colocado ou apresentado no laboratório daquilo que chamamos: sala de aula.
Segundo Nietzsche (2011, p. 29-31) o espírito quando em processo de transformação é no seu primeiro estágio um camelo. Que se submete a todo tipo de cargas pesadas, contudo não impedem que o camelo alcance o seu objetivo que é alcançar o deserto. No segundo momento o espírito tem a personificação de um leão que denota força, desejo, impulso, vontade de liberdade e ser autônomo. Por isso enfrenta o dragão que representa todos os sistemas que podemos denominar de heterônomos. Responsáveis de criar e impor regras e assim limitar ou restringir à liberdade que é inerente a pessoa humana. Por último temos o ser humano personificado em uma criança. Que vive a vida sem culpa, que não vive ou se alimenta de memórias passadas, mas vive se reinventado, sabe o que quer e ocupa seu espaço em um mundo independente e marcado pela criatividade.
A partir desta estória podemos identificar os caminhos ou desafios que os (as) professores (as) em sala de aula ou na vida pessoal devem transitar para desenvolverem a criatividade nos espaços escolares.
O primeiro caminho é o de suportar com resiliência as várias cargas que lhes são impostas ao logo da sua jornada. Sejam as cargas: da falta de material escolar, recursos tecnológicos, a violência, os salários atrasados, a falta de apoio pedagógico e moral e tudo aquilo que tente rebaixá-lo (a) a ponto de impedir sua chegada ao deserto. Por isso o docente deve suportar até o fim.
Segundo, deve ter a coragem do leão para dizer não as ideologias repressoras que impõe heteronomias que visam limitar e até mesmo restringir a liberdade de pensar e criar por si mesmo. Como é o caso das teorias de ensino, e currículos enrijecidos.
Por isso o docente precisa ser criança, não ter medo de errar, mas reinventar sempre, tornar o espaço escolar em jogo, brinquedo e assim como a criança criar e desenvolver a partir daquilo que dispõe (materiais disponíveis em sala de aula) novas possibilidades, caminhos... Que o espaço escolar assim como o ato de brincar seja prazeroso e inovador para a elaboração de novas possibilidades de aprendizagem a partir da criatividade fomentada em sala de aula.

     Considerações que não esgotam a criatividade
A criatividade não é algo que está condicionado a alguns. Como se estes fossem entes especiais, escolhidos, privilegiados e, portanto só nestes podemos encontrar desiderato da criatividade. A criatividade surge do instinto, da razão, do desejo, das circunstâncias da vida seja pessoal, social, histórico e cultural. Por isso a criatividade é um fenômeno universal. 
            Neste sentido a criatividade é caminho, que evolui e como um rio tem muitos braços e leitos. Que movida pelas circunstâncias existenciais promove mudanças, rupturas, reinventa-se e cria novas formas, possibilidades por meio de sua dinamicidade, contextualidade e interatividade.
            Por isso os docentes devem perceber que a criatividade não algo que caiu do céu e logo como um dom foi concedido a alguns iluminados. Pelo contrário devem entender que a criatividade é inerente a cada ser humano e que estes devem desenvolver este instrumento para seu desenvolvimento como ser humano e profissional.
Para isso se faz necessário um processo transformador que venha desembocar numa criatividade despida de cargas e imposições heterônomas que perturbam e restringem a ação de criar. E só assim como uma criança poderá fazer, criar e gerar em seu laboratório (sala de aula) novos caminhos e possibilidades para uma melhor aprendizagem.


Referências
NIETZSCHE, Friedrich. Assim falava Zaratustra: um livro para todos e para ninguém. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. (Coleção Vozes de Bolso)
NUÑEZ, I. B.; SANTOS, F. A. A. O Professor e a Formação Docente: a
criatividade e as crenças educativas onde estão? Holos, Natal a. 28, v. 2,
2012.
OSTROWER, Fayga. Criatividade e Processos de Criação. Petrópolis:
Vozes, 1987
 


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