sábado, 21 de fevereiro de 2015

Ética, moral e cidadania - Liberdade e possessão

Ética, moral e cidadania
Liberdade e possessão
                                   Edson Pereira


Introdução
            Nosso texto tem como objetivo em primeiro lugar, definir para uma melhor compreensão do assunto proposto os termos relacionados à ética e a moral. Depois com base nesta definição veremos as raízes de suas diferenças e incompatibilidades. Por último apresentaremos o que há de comum entre a ética e a cidadania. 

Definindo os termos

Ética – em busca da liberdade...
O ser humano anela a liberdade de poder pensar, questionar, criar, agir... Por isso podemos definir “ética” (Almeida, [s.d], p.11-16.) como: um desejo pela liberdade, provocando uma busca constante para alcançar seu objetivo, sua força consiste em descobrir por meio de sua capacidade criadora a transformação de conflitos que se estabelecem nas questões morais que envolvem nossa existência.
Moral – hábitos possessivos.
A criança quando nasce se depara com diferenças que provocam algumas reações como, por exemplo: chorar, como consequência do seu contado com um “novo mundo”. Contudo, à medida que cresce ela começa a se habituar às mudanças decorridas desse novo contato. Percebe que neste “novo mundo” existem regras, conceitos, costumes que todos recebem e praticam sem nenhum questionamento. Logo a criança passa a aderir e se habituar a tudo que este “novo mundo” tem estabelecido sem questionar, até porque tudo lhe parece “normal”.
O exemplo desta comparação acima citada, à “moral” (Op.cit, p.18) pode ser definida como: ações que de tanto praticadas tomam forma, assumindo o controle absoluto, logo se tornam objeto de unissonância da coletividade, dando-lhe completo controle no estabelecimento de suas ações.  
Distinguido os termos
Conhecendo os termos que envolvem a ética e moral fica mais fácil de perceber suas diferenças. Suas diferenças são claras e nítidas. A ética tem fome e sede de liberdade, o que lhe provoca um desejo profundo e insaciável, por isso ela busca os meios que lhes são favoráveis e para isso ela faz uso de sua capacidade criadora e flexível.
 Podemos perceber que se existe um desejo de liberdade é por que existe uma opressão (hábitos possessivos) que controla e manipula obstruindo a passagem de novas possibilidades. Por isso ética questiona e critica esta opressão instalada, não aceita suas ideologias mortíferas, mas quebra as algemas da opressão e estabelece a busca da  “possibilidade de recriar os hábitos, de inventar novas soluções para os problemas morais vividos” (Op.cit, p.26).
A moral é produzida por hábitos e costumes que se instala em decorrência de suas práticas, sua função é amoldar o caráter de determinados grupos lhes tornado submissos. Estes grupos se tornam passivos, pois todas as atividades estão a cargo destes hábitos e costumes que são responsáveis pela condução deste grupo.

 Ética e Cidadania – uma boa relação
            Existe uma boa relação entre ética e cidadania, ambas são movidas por um mesmo desejo, o exercício da liberdade (Op.cit, p.21). Por a ética ser anterior a moral (Op.cit, p.11), a cidadania acontece “no campo dos hábitos” (Op.cit., p.20). É no campo dos hábitos que os conflitos tomam suas formas. Os hábitos possessivos que se instalaram nos grupos consideram-se como a única e inalterável forma de moral. Conseqüentemente torna-se responsável pela opressão e decadência do grupo que adotou sua ideologia, fomentada para sua própria alienação (política, religiosa, social, educacional, econômica etc.).
            É neste contexto de conflito com os hábitos possessivos que para o bom exercício da cidadania a ética promove a criação de novos caminhos e possibilidades. A ética torna-se guardiã da liberdade, entra no campo dos hábitos e fomenta novos hábitos que serão responsáveis de criar o pleno exercício da cidadania proporcionando “novas possibilidades habituais” (Op. Cit., p.27) sejam elas políticas, religiosas, sociais, educacionais, econômicas...    

Considerações finais
            Por não se conformar com os hábitos possessivos a ética sempre busca novos caminhos em decorrência do seu espírito libertador e transformador. Enquanto a moral assume a forma dos hábitos adquiridos tornando-os soberanos e absolutos. A relação da ética e da cidadania provoca rupturas e mudanças libertadoras promovendo novos hábitos e costumes.  

Referência bibliográfica
ALMEIDA, Danilo Di Manno de. Uma ética para o corpo: Cidadania e educação transformadora. [s.d]. Disponível em: http://editora.metodista.br/textos_disponiveis/corpo%20e%20Etica/introduçao.pdf : Acesso em 31/10/11.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

A Igreja na missão de Deus


Edson Pereira


Introdução        
Porque as igrejas cristãs com todo seu aparato intelectual, tecnológico e econômico que dispõe são tão ineficazes na missão da propagação do Evangelho? O que fazer para que a mensagem de Cristo torne-se eficaz?
            Em diálogo com o texto do pastor e coordenador de programa de Missão e Evangelização do Conselho Mundial de Igrejas, Jacques Matthey. Nosso objetivo será buscar elementos que sejam norteadores para a missão de Deus através do seu instrumento - a Igreja.
            Em primeiro lugar, queremos buscar respostas para a primeira pergunta. Por que a mensagem cristã tem sido tão ineficaz como propagadora do Evangelho? Vejamos algumas possibilidades:
Exclusivismo teológico e eclesiológico – Nos primeiros séculos da igreja cristã surgiu um cristianismo denominado marginal por não seguir um modelo referenciado e aceito pela Igreja (ou igrejas, a partir da reforma protestante até a atualidade) oficial. Sua visão teológica e eclesial chocou e abalou as estruturas da Igreja oficial.
             Em resposta a Igreja oficial elaborou dogmas teológicos e eclesiais a fim de preservar a cristandade das heresias e assim preservar sua fé. Estes dogmas tomaram forma e acabamento a ponto de se tornarem inflexíveis. Desenvolver uma teologia ou eclesiologia fora destes era sinônimo de abandono da fé o que resultava em punição.
A Igreja oficial neste momento tornou-se não um instrumento da missão salvífica de Deus, mas a própria portadora da salvação. Não pertencer à igreja oficial era o mesmo que não ter parte no plano salvífico Deus “Extra ecclesiam nulla salus” (PÖPPELMANN, 2010, p.49).
Intolerância religiosa – O exclusivismo teológico e eclesiológico incutiu na mente da igreja oficial como se ela fosse à única portadora da verdade. Logo não poderia haver diálogo religioso (dentro do próprio cristianismo) ou inter-religioso (religiões não cristãs). O resultado disto foi que a Igreja tornou-se intolerante. Não concordar com o pensamento da igreja era colocar a vida em perigo. Perseguições, mortandades, injustiças etc. Tudo em nome da verdade e de Deus, esta intolerância é marca histórica da igreja que por dogmatizar e engessar a fé perdeu de vista a missão de Deus que emerge do seu amor incondicional outorgado a nós por meio da vida, morte e ressurreição de Cristo.
Agora que apontamos as causas da ineficácia da igreja como instrumento de Deus na propagação do Evangelho. Procuraremos responder a segunda pergunta. Com isso não queremos dizer que estas respostas são únicas e não requerem mais aprofundamento. Contudo acreditamos que elas são fundamentais, pois sua base esta nas Escrituras.
Reconciliação: Referenciado nas Escrituras e mais especificamente nos escritos paulinos e deutero-paulinos podemos dizer que “a reconciliação é obra de Deus (...) e é estendido conseqüentemente a toda realidade” (MATTEY, 2005, p. 33, 34).
Com base nestas definições queremos fazer algumas afirmações: Primeiro, a reconciliação tem sua origem em Deus que graciosamente oferece a todos. Em Segundo, Cristo por meio da sua morte Deus a usou para estabelecer a “paz entre Deus e a humanidade, respectivamente a criação” (MATTEY, loc. cit.). Terceiro lugar, ela é holística envolve a humanidade, a criação e constrói uma comunidade unida onde paz, “amor e respeito, unidade em diversidade, aliada a tolerância, ao reconhecimento e à hospitalidade” (MATTEY, loc. cit.) convergem no rio misterioso da Trindade fonte de amor, união e comunhão.
Diálogo: No epílogo do seu livro Religiões do mundo, Hans Küng defende a possibilidade de um diálogo entre as religiões a fim de encontrarmos pontos comuns. Ele propõe a necessidade de “uma ilimitada abertura e disposição para o diálogo” (KÜNG, 2004, p. 281). Esta disposição é necessária em primeiro lugar, porque envolvem questões sociais, culturais, religiosos, políticos que foram responsáveis de gerar injustiça, perseguição, opressão e danos, que precisam através do perdão propiciar reconciliação (MATTEY, op. cit., p. 42). Segundo, os pontos que convergem em direção a Deus.
Para Hans Küng: A salvação do homem também é possível fora da igreja católica, ou mesmo do cristianismo: a questão da verdade e a questão da salvação não são a mesma coisa. Deus existe não acima nem fora deste mundo, mas sim neste mundo: transcendência na imanência. Jesus Cristo tem que ser entendido a partir de sua caminhada terrena, e não a partir de uma doutrina trinitária especulativa: cristologia “de baixo” (KÜNG, op. Cit., p. 282).
            Por fim o estabelecimento por meio do diálogo profético, solidário, a uma comunidade da paz escatológica.
            Unidade: A unidade esta intrinsecamente relacionada à missão. A trindade é fonte e Cristo é o agente e só por ele nós podemos desfrutar desta unidade. Esta unidade pode ser identificada pelo menos em cinco diretrizes: Unidade espiritual, Unidade em diversidade, Liberdade para o testemunho e conversão pessoal, Qualidade da comunidade-agape e Testemunho comum (. MATTEY, op. cit., p. 35-40).
             Em síntese estas diretrizes afirmam que a unidade é fruto da nossa relação com o Trino Deus. Ela acontece na história por meio da morte de Cristo e é vivenciada pela ação do Espírito. Ela é dinâmica, acontece em um contexto marcado pela diversidade. Proporciona novos horizontes em nossa vivência religiosa. Comunga respeito, afeto e assistência social. E por fim trabalham em conjunto no estabelecimento do Reino de Deus.
Considerações Finais
            Deus comissionou sua Igreja não para impor a fé ou condicioná-la a dogmas. Mas a chamou para ser um instrumento de reconciliação para a humanidade que sofre e carece do amor de Deus. A comunidade cristã é espaço para o diálogo inter-religioso, por isso a igreja precisa dialogar nos pontos que nos são comuns e contribuem para a união e o estabelecimento da paz. Por fim a unidade é marca da comunidade nascida das entranhas do Deus trino.              

Referência bibliográfica:
KÜNG, Hans. Religiões do mundo: em busca dos pontos comuns. Trad. Carlos Almeida Pereira. Campinas. SP: Verus Editora, 2004.
MATTHEY, Jacques. Estudos Teológicos, v. 45, n. 2, 2005.
PÖPPELMANN, Christa. Dicionário de Máximas e expressões em latim. Trad. Ciro Mioranza. São Paulo: Editora Escala, 2010.