Edson Pereira
Introdução
Porque as igrejas cristãs com todo seu aparato intelectual,
tecnológico e econômico que dispõe são tão ineficazes na missão da propagação
do Evangelho? O que fazer para que a mensagem de Cristo torne-se eficaz?
Em diálogo com o texto do pastor e
coordenador de programa de Missão e Evangelização do Conselho Mundial de
Igrejas, Jacques Matthey. Nosso objetivo será buscar elementos que sejam
norteadores para a missão de Deus através do seu instrumento - a Igreja.
Em primeiro lugar, queremos buscar
respostas para a primeira pergunta. Por que a mensagem cristã tem sido tão
ineficaz como propagadora do Evangelho? Vejamos algumas possibilidades:
Exclusivismo teológico e eclesiológico – Nos primeiros séculos da igreja cristã surgiu um cristianismo
denominado marginal por não seguir um modelo referenciado e aceito pela Igreja (ou
igrejas, a partir da reforma protestante até a atualidade) oficial. Sua visão teológica
e eclesial chocou e abalou as estruturas da Igreja oficial.
Em resposta a Igreja oficial
elaborou dogmas teológicos e eclesiais a fim de preservar a cristandade das
heresias e assim preservar sua fé. Estes dogmas tomaram forma e acabamento a
ponto de se tornarem inflexíveis. Desenvolver uma teologia ou eclesiologia fora
destes era sinônimo de abandono da fé o que resultava em punição.
A Igreja oficial neste momento tornou-se não um instrumento da
missão salvífica de Deus, mas a própria portadora da salvação. Não pertencer à
igreja oficial era o mesmo que não ter parte no plano salvífico Deus “Extra
ecclesiam nulla salus” (PÖPPELMANN, 2010, p.49).
Intolerância religiosa – O
exclusivismo teológico e eclesiológico incutiu na mente da igreja oficial como se
ela fosse à única portadora da verdade. Logo não poderia haver diálogo
religioso (dentro do próprio cristianismo) ou inter-religioso (religiões não
cristãs). O resultado disto foi que a Igreja tornou-se intolerante. Não
concordar com o pensamento da igreja era colocar a vida em perigo.
Perseguições, mortandades, injustiças etc. Tudo em nome da verdade e de Deus,
esta intolerância é marca histórica da igreja que por dogmatizar e engessar a
fé perdeu de vista a missão de Deus que emerge do seu amor incondicional
outorgado a nós por meio da vida, morte e ressurreição de Cristo.
Agora que apontamos as causas da ineficácia da igreja como
instrumento de Deus na propagação do Evangelho. Procuraremos responder a
segunda pergunta. Com isso não queremos dizer que estas respostas são únicas e
não requerem mais aprofundamento. Contudo acreditamos que elas são
fundamentais, pois sua base esta nas Escrituras.
Reconciliação:
Referenciado nas Escrituras e mais especificamente nos escritos paulinos e
deutero-paulinos podemos dizer que “a reconciliação é obra de Deus (...) e é
estendido conseqüentemente a toda realidade” (MATTEY, 2005, p. 33, 34).
Com base nestas definições queremos fazer algumas afirmações:
Primeiro, a reconciliação tem sua origem em Deus que graciosamente
oferece a todos. Em Segundo, Cristo por meio da sua morte Deus a usou
para estabelecer a “paz entre Deus e a humanidade, respectivamente a criação”
(MATTEY, loc. cit.). Terceiro lugar, ela é holística envolve a humanidade, a
criação e constrói uma comunidade unida onde paz, “amor e respeito, unidade em
diversidade, aliada a tolerância, ao reconhecimento e à hospitalidade” (MATTEY,
loc. cit.) convergem no rio misterioso da Trindade fonte de amor, união e
comunhão.
Diálogo: No epílogo do seu
livro Religiões do mundo, Hans Küng defende a possibilidade de um diálogo entre
as religiões a fim de encontrarmos pontos comuns. Ele propõe a necessidade de
“uma ilimitada abertura e disposição para o diálogo” (KÜNG, 2004, p. 281). Esta
disposição é necessária em primeiro lugar, porque envolvem questões sociais,
culturais, religiosos, políticos que foram responsáveis de gerar injustiça,
perseguição, opressão e danos, que precisam através do perdão propiciar
reconciliação (MATTEY, op. cit., p. 42). Segundo, os pontos que convergem em
direção a Deus.
Para Hans Küng: A salvação do homem
também é possível fora da igreja católica, ou mesmo do cristianismo: a questão
da verdade e a questão da salvação não são a mesma coisa. Deus existe não acima
nem fora deste mundo, mas sim neste mundo: transcendência na imanência. Jesus
Cristo tem que ser entendido a partir de sua caminhada terrena, e não a partir de
uma doutrina trinitária especulativa: cristologia “de baixo” (KÜNG, op. Cit.,
p. 282).
Por fim o
estabelecimento por meio do diálogo profético, solidário, a uma comunidade da
paz escatológica.
Unidade:
A unidade esta intrinsecamente relacionada à missão. A trindade é fonte e
Cristo é o agente e só por ele nós podemos desfrutar desta unidade. Esta
unidade pode ser identificada pelo menos em cinco diretrizes: Unidade
espiritual, Unidade em diversidade, Liberdade para o testemunho e conversão
pessoal, Qualidade da comunidade-agape e Testemunho comum (. MATTEY, op. cit.,
p. 35-40).
Em síntese estas diretrizes afirmam que a
unidade é fruto da nossa relação com o Trino Deus. Ela acontece na história por
meio da morte de Cristo e é vivenciada pela ação do Espírito. Ela é dinâmica,
acontece em um contexto marcado pela diversidade. Proporciona novos horizontes
em nossa vivência religiosa. Comunga respeito, afeto e assistência social. E
por fim trabalham em conjunto no estabelecimento do Reino de Deus.
Considerações Finais
Deus comissionou
sua Igreja não para impor a fé ou condicioná-la a dogmas. Mas a chamou para ser
um instrumento de reconciliação para a humanidade que sofre e carece do amor de
Deus. A comunidade cristã é espaço para o diálogo inter-religioso, por isso a
igreja precisa dialogar nos pontos que nos são comuns e contribuem para a união
e o estabelecimento da paz. Por fim a unidade é marca da comunidade nascida das
entranhas do Deus trino.
Referência
bibliográfica:
KÜNG, Hans.
Religiões do mundo: em busca dos pontos
comuns. Trad. Carlos Almeida Pereira. Campinas. SP: Verus Editora, 2004.
MATTHEY,
Jacques. Estudos Teológicos, v. 45,
n. 2, 2005.
PÖPPELMANN,
Christa. Dicionário de Máximas e
expressões em latim. Trad. Ciro Mioranza. São Paulo: Editora Escala, 2010.
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