sábado, 23 de abril de 2016

Ergo instinctus, ergo sum...






Edson Pereira


Engendrado para a vida,
De uma relação desconhecida,
Sob cuidados de estranhos,
Que me deram acolhida.

Desde cedo aprendi,
Sob a tutela da família, religião e Estado,
Que a consciência é o resultado:
De uma moral criada e estabelecida.

Minha razão foi construída e domesticada,
Por essa consciência moral,
Que a meu instinto desprezava,
E por isso, o dogmatizaram como imoral.

Com essa consciência criada,
Pela razão educada,
Do instinto me esquivei,
E dá moral vigente criada toda minha vida pautei.

Na religião busquei um contato imediato,
Com o divino representado na linguagem religiosa,
A teologia, meu referencial,  logo ensinaria:
Que o instinto é um mal e pecado seu nome seria.

Cansado e abatido, a religião deixei,
Suas promessas se tornaram obsoletas,
Céu e inferno ser tornariam devaneios,
E logo não fariam mais sentido;

Meu passado e meu futuro,
De suas rédeas não seria contido,
Apenas o presente vivido poderia me ater,
E para isso busquei outro instrumento: a moral

Fruto de uma razão que se diz laica,
Na política do estado busquei meu instinto domesticar –
Educação, ideologias,  políticas...
Prometeram meu instinto controlar.

Seus métodos racionalizados de verdade,
São criteriosamente oficializados,
Crer nesse dogma é visto com louvor,
E sinônimo de civilidade.

Com utopias castradoras,
Controlam e massificam indivíduos,
Tornando-os subservientes, 
Com a alcunha da igualdade.

E em nome de ideologias criadas,
Formam hermenêuticas “científicas’’,       
Para atestar e confirmar:
Suas crenças envaidecidas.

Desde então, fiquei inquieto...
E depois fui desperto, 
Para entender os segredos do instinto,
Que toda  moral condena,despreza e a lança no limbo.

Na filosofia antiga encontrei a beleza do instinto,
Algo profundo, majestoso, inescrutável...
Mundo amplo, poderoso que pela razão não pode ser controlado,
É fonte de vida, rio com indecifráveis correntezas...

Dele flui desejos, pulsões e energias...
Sua força é sem limites, e não pode ser controlado,
Quando aceito e por ele dirigido um mundo novo se abre: 
É por isso que na arte, poesia e filosofia,
Que dos primeiros gregos exala,
Beleza e tragédia vivem harmonia,

Como reflexo de uma vida vivida,
Nos acordes da natureza ela é expressada,
Morte,vida, caos e criação são: 
a mais bela definição da vida como obra de arte.




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