Edson Pereira
O
contrato Epistemológico é um acordo, entre ás várias epistemologias que buscam
superar os dualismos que podem ser representados em diferentes perspectivas. Isso
se torna significativo com o nascimento da Ciência Moderna que estabeleceu um
estatuto epistemológico, que poderíamos denominar de excludente, dogmático e
repressor. Isso explica, o porquê das Humanidades serem tratadas como
pseudociências. Contudo, na física, entre os ramos que ela mesma constitui, se
destaca, dentre outras, sobre o que estamos discorrendo, a Mecânica Quântica.
Ela aponta que, dado os movimentos diante daquilo que se apresenta: a coisa em
si, (preferimos o uso do termo “coisa em si” do que o termo objeto) tanto a
coisa em si, como outro sofre transformação, modificação em conhecer e absorver
o real em sua totalidade, porque não dizer: a verdade em si. Implica dizer que
o Estatuto Epistemológico Científico Moderno, através de seus métodos: é apenas
uma gota d’agua que emerge do grande oceano, que fomentou sua origem e por isso,
dele se esvai dada a sua dimensão que transita e perpassam os dualismos.
Por
isso, as religiões e suas religiosidades, como elemento cultural, tem sua
linguagem epistemológica que mesmo forjada dela, lhe escapa. E são várias as epistemologias
que influenciaram e foram influenciadas pelo elemento religioso. A linguagem religiosa
é de uma dimensão profunda e assim como a ciência tem o seu caminho, e isto não
garante que seus métodos e postulados sobre a verdade, o real, com todas as
suas implicações filosóficas e existenciais lhe permitam como outrora ela para
si outorgou, o mesmo que a ciência moderna outorga para si (na verdade este é o
problema de todas as Ciências) aquilo que podemos chamar de hegemonia
epistemológica – ela formula o caminho da verdade; estabelece a partir de seus
postulados os métodos delimitando apenas o seu caminho metodológico como
autêntico e verdadeiro. Ironia do destino: a Ciência moderna de hoje trata a linguagem
religiosa assim como a linguagem religiosa a tratou: com exclusão.
O
contrato epistemológico que advogamos é despido de dualismos. É integrador, abrangente,
aberto, pois busca a compreensão do todo em suas várias formas. Implica dizer, analogicamente
que assim como a Ciência Moderna é uma gota d’agua deste obscuro oceano, da
mesma forma estas outras Ciências, em nosso caso, a linguagem religiosa e a
religiosidade com sua epistemologia e práxis é mais uma gota d’agua desse
oceano. A verdade em si, não pode ser absorvida por epistemologias e
metodologias. Parafraseado Nietzsche, a verdade desde que ela se tornou objeto
de busca, ela provocou sedução. Tornou-se sedutora. Muitas epistemologias oriundas
desta busca criaram e descreveram suas relações para a verdade e como entendiam
a verdade, mas não o que é a verdade em si. Para isso, se faz necessário um
contrato que integre e transite entre estas várias epistemologias absorvendo e
sendo absorvida, sem, no entanto alienar-se de seus pressupostos que surgiram
de seu lugar perspectivo. É uma epistemologia que nos termos Tillichiano é
chamada de fronteira. Propõe uma relação com as demais epistemologias, permite dialogar
e a partir do seu lugar construir uma epistemologia que reúna estas duas
crianças: imanência e transcendência, ambas metaforizadas por Nietzsche e pelo
Cristo. A criança de Nietzsche é poiesis
que reúne em si todos os elementos da vida - imanência. A criança do Cristo é cósmica, aberta para aquilo que lhe transcende,
pois esta ligada ao todo – Transcendência. A verdade hoje não pode ser buscada
de forma isolada, mais em conjunto, na relação, a partir do seu lugar
perspectivo, pessoal e social. Podemos dizer que esse contrato epistemológico inaugura
uma nova dimensão, ou nos termos de William Blake, uma união, em que a
imanência e a transcendência se tornam uma só carne.
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