quinta-feira, 13 de julho de 2017

Contrato Epistemológico

 
 
Edson Pereira
 
 
O contrato Epistemológico é um acordo, entre ás várias epistemologias que buscam superar os dualismos que podem ser representados em diferentes perspectivas. Isso se torna significativo com o nascimento da Ciência Moderna que estabeleceu um estatuto epistemológico, que poderíamos denominar de excludente, dogmático e repressor. Isso explica, o porquê das Humanidades serem tratadas como pseudociências. Contudo, na física, entre os ramos que ela mesma constitui, se destaca, dentre outras, sobre o que estamos discorrendo, a Mecânica Quântica. Ela aponta que, dado os movimentos diante daquilo que se apresenta: a coisa em si, (preferimos o uso do termo “coisa em si” do que o termo objeto) tanto a coisa em si, como outro sofre transformação, modificação em conhecer e absorver o real em sua totalidade, porque não dizer: a verdade em si. Implica dizer que o Estatuto Epistemológico Científico Moderno, através de seus métodos: é apenas uma gota d’agua que emerge do grande oceano, que fomentou sua origem e por isso, dele se esvai dada a sua dimensão que transita e perpassam os dualismos.
Por isso, as religiões e suas religiosidades, como elemento cultural, tem sua linguagem epistemológica que mesmo forjada dela, lhe escapa. E são várias as epistemologias que influenciaram e foram influenciadas pelo elemento religioso. A linguagem religiosa é de uma dimensão profunda e assim como a ciência tem o seu caminho, e isto não garante que seus métodos e postulados sobre a verdade, o real, com todas as suas implicações filosóficas e existenciais lhe permitam como outrora ela para si outorgou, o mesmo que a ciência moderna outorga para si (na verdade este é o problema de todas as Ciências) aquilo que podemos chamar de hegemonia epistemológica – ela formula o caminho da verdade; estabelece a partir de seus postulados os métodos delimitando apenas o seu caminho metodológico como autêntico e verdadeiro. Ironia do destino: a Ciência moderna de hoje trata a linguagem religiosa assim como a linguagem religiosa a tratou: com exclusão.
O contrato epistemológico que advogamos é despido de dualismos. É integrador, abrangente, aberto, pois busca a compreensão do todo em suas várias formas. Implica dizer, analogicamente que assim como a Ciência Moderna é uma gota d’agua deste obscuro oceano, da mesma forma estas outras Ciências, em nosso caso, a linguagem religiosa e a religiosidade com sua epistemologia e práxis é mais uma gota d’agua desse oceano. A verdade em si, não pode ser absorvida por epistemologias e metodologias. Parafraseado Nietzsche, a verdade desde que ela se tornou objeto de busca, ela provocou sedução. Tornou-se sedutora. Muitas epistemologias oriundas desta busca criaram e descreveram suas relações para a verdade e como entendiam a verdade, mas não o que é a verdade em si. Para isso, se faz necessário um contrato que integre e transite entre estas várias epistemologias absorvendo e sendo absorvida, sem, no entanto alienar-se de seus pressupostos que surgiram de seu lugar perspectivo. É uma epistemologia que nos termos Tillichiano é chamada de fronteira. Propõe uma relação com as demais epistemologias, permite dialogar e a partir do seu lugar construir uma epistemologia que reúna estas duas crianças: imanência e transcendência, ambas metaforizadas por Nietzsche e pelo Cristo. A criança de Nietzsche é poiesis que reúne em si todos os elementos da vida - imanência. A criança do Cristo é cósmica, aberta para aquilo que lhe transcende, pois esta ligada ao todo – Transcendência. A verdade hoje não pode ser buscada de forma isolada, mais em conjunto, na relação, a partir do seu lugar perspectivo, pessoal e social. Podemos dizer que esse contrato epistemológico inaugura uma nova dimensão, ou nos termos de William Blake, uma união, em que a imanência e a transcendência se tornam uma só carne.  
            


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