domingo, 29 de outubro de 2017

Diário de dissidente

Noite escura de inverno

Edson Pereira


 Mesmo na noite escura deste inverno,
 Vou lutar até o fim:
 Até a última gota de sangue que percorre em mim,
 Até o último hálito de vida,
 Vou lutar até o fim:
 Mesmo na noite escura deste inverno;

Ainda que na noite escura deste inverno,
Minhas forças vitais desfaleçam,
E minhas pulsões desapareçam,
Mesmo assim vou lutar:
Ainda que seja na noite escura deste inverno;

Acrisolado, na noite escura deste inverno,
Sem chão, sem teto e telhado,
Sem cama e um lençol para agasalhar,
Mesmo assim vou lutar:
Acrisolado, na noite escura deste inverno;

A solidão é traiçoeira na noite escura deste inverno,
Leva embora tudo e todos,
Apenas o que sobrou de mim fica,
Mesmo assim vou lutar:
Na solidão escura deste inverno;

Demônios, na noite escura deste inverno,
Assolam externa e internamente minha vida,
Provocando dores e abrindo novas e velhas feridas,
Mesmo assim vou lutar:
Com todos os demônios na noite escura deste inverno;

Deus, na noite escura deste inverno,
É um reflexo, um desejo, uma pulsão,
Que se perde no mistério e em minha imaginação,
Mesmo assim vou lutar:
Com ou sem deus, na noite escura deste inverno;

A assombrosa noite escura deste inverno,
Indiferente, estranha e severa,
Com todas as formas de vida e espécie,
Mesmo assim vou lutar:
Na assombrosa noite escura deste inverno;

A noite escura deste inverno,
Levou o sol, a lua e as estrelas de mim,
A alegria, a paz e o meu destino,
Mesmo assim vou lutar:
Pela vida que pulsa em mim,
E isso: a noite escura deste inverno, não vai tirar de mim.

  

            










terça-feira, 17 de outubro de 2017

Diário de um dissidente


A verdade que é boa, nada!

Edson Pereira



São tantas as inquietações... Tantas interrogações... Tantas dúvidas... A cabeça tá cheia, em tempo estourar. E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará. Onde está verdade? Quem é essa que ao longo da história humana muitas ciências, religiões disseram, falaram, comentaram, viveram, mataram, morreram e, até hoje, como água, colocada numa peneira, ninguém consegue segurar?  
O cristianismo a partir de um dito, atribuído a Cristo, diz que a verdade está em conhecê-lo e, todos os grilhões que prendem o homem através deste conhecimento podem liberta-lo. Este dito, tem obtido um efeito gigantesco na vida de milhares de pessoas. Contudo, ao longo da história até a atualidade, essa verdade tem sido um suporte de massificação, alienação e distorção deste dito em nome de uma verdade chamada de Cristo. Outras religiões, vão na mesma linha. O que dizer dos judeus cujo deus na prática é o dinheiro, e no templo, é Jeová? O que dizer do Islã com sua interpretação fundamentalista? Quais destes seguimentos estão com a verdade? Difícil saber! Haja a vista que para estes só existe uma verdade. E para garantir essa verdade, cada uma destas religiões criaram sistemas, hermenêuticas, dogmas. E a verdade que é boa, nada!
Na filosofia temos a celebre frase atribuída a Sócrates: conhece-te a ti mesmo. Como? Vem Platão e diz: que a verdade, o verdadeiro conhecimento está num mundo ideal, perfeito que transcende o mundo dos sentidos. E para piorar, a filosofia criou vários sistemas, doutrinas sobre como a verdade é aprendida. Bem disse o filosofo bigodudo com seu martelo, que a verdade, ao longo da história seduziu a muitos deles e, até hoje os pobres coitados estão na solidão. E a verdade que é boa, nada!
A ciência empírica, fruto do racionalismo surge pra desmantelar todas as ciências humanas, de forma particular, a teologia. Prometendo um mundo melhor, de progresso onde no futuro todos os problemas da humanidade seriam solucionados. A garantia seria o método científico que daria ao ser humano, o conhecimento da verdade e neste sentido, o libertaria de todas as amarras da religião. Pois é, isso não aconteceu! À humanidade está em caos e agonia. E a verdade que boa, nada!
Vem à física quântica e diz: a verdade está entre estes dois polos: religião e ciência. Complicou mais ainda o negócio, principalmente para aqueles que defendem com unhas e dentes seus polos de onde emanam suas verdades. Pois entre ambas existe um vazio (a verdade) que transita por elas, contudo, as perpassa. Embora haja nestes dias tenebrosos vários ramos dentro das religiões e da ciência, que compartilham estas ideias em busca de um diálogo sadio que muito estimo, existem avalanches de fundamentalismo religioso, científico e filosófico, que tem se levantado, cada um com sua bandeira hasteada de convicções sobre suas verdades. E o perigo hoje ronda a humanidade por que: “as convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras”. E a verdade que é boa, nada!

 

domingo, 1 de outubro de 2017

Diário de um dissidente




Emancipação política: Por quê? Pra quê? Onde? Quando? Quem? Pra quem?




Vivemos em um contexto: em que várias expressões sociais procuram seu espaço, principalmente no campo político e jurídico, onde o problema da emancipação humana reclama sua extensão. Nota-se no cenário mundial e, mais especificamente no brasileiro, onde várias expressões da sociedade reclamam sua autonomia. Me estranha o que estas expressões entendem como emancipação. Qual emancipação? Apenas da sua expressão? Se a emancipação é para todos, porque só a sua? Se a sua expressão é oprimida, quem lhe oprime não é? Clama-se por reconhecimento e igualdade, ela é uma necessidade que se restringe apenas a vós?
Parece-me que nossas utopias políticas, religiosas, científicas e filosóficas, sejam elas quais forem demonstram que suas intenções são diante do problema da emancipação e, portanto da liberdade humana, irrelevantes. Primeiro, e aqui serei bem especifico, a partir do contexto brasileiro. E para tanto, não pouparei nenhuma expressão seja ela qual for. Humanidade é humanidade, e é, nas características pessoais de cada pessoa, isto é, em sua diferença que está à humanidade. É o no outro que minha imagem é revelada. Logo, diferenças dentro do principio de emancipação humana é de sua própria natureza, emergem de suas condições como fruto da cultura e da sociedade. Logo usando uma terminologia do novo testamento cristão, e fazendo uma interpretação dentro desta perspectiva: Eklesia é um espaço onde pessoas, com todas as suas diferenças se reúnem e comungam de um bem ou propósito comum: o estabelecimento da emancipação humana.
Não entendo como estas várias expressões no Brasil fundamentam sua causa baseada numa emancipação que se restringe a uma necessidade de afirmação política e jurídica. Distingo estas expressões em dois grupos. O primeiro, esta corroído por aquilo que tanto abomina – a política. No Brasil a relação de igreja e Estado sempre foi tensa. As chaves de Pedro foi uma forma velada e descarada de interpretação usada para controlar, dominar e alienar o ser humano (sob a tutela do Estado) de si, do outro e, por incrível que pareça: até daquilo que os cristãos chamam de Deus. Temos em nossa república e “democracia” uma classe de religiosos, com objetivos que em sua essência em nada tem de evangélico. O que buscam é espaço, território, um lugar ao sol da terra de Santa Cruz, onde seus objetivos políticos, mesquinhos e dogmáticos possam se afirmar e estabelecer por meio do poder político, amparado pela lei – uma teocracia a serviço da economia como forma de expansão política e ideológica de um cristianismo que não tem nada de Cristo, mas apenas reflete seu conluio com o Estado, Cérbero do inferno. Seria bom, os católicos analisarem isso. Lembram-se de onde tudo começou? A história passa, mas a memória fica!
O segundo grupo ideologicamente, no sentido de emancipação, está voltado à política: na busca de seus direitos e para que estes se tornem reconhecidos e respeitados. E são muitas as expressões... Elas são a minoria, e paradoxalmente, a maioria, que a longo da história sofreram e sofrem, debaixo de um jugo desigual, principalmente no que se refere a emancipação, seja no seu  aspecto político e social – isto em todos os aspectos inerentes a existência humana. Contudo, meu demônio interior soa no meu ouvido e pergunta: Isto que estes do primeiro grupo e do segundo reclamam é emancipação de verdade? Ela se destina a todo ser humano? Essa emancipação tem como ponto de partida o problema concreto de todo ser humano? Estas expressões desejam que todo ser humano que sofre e, encontra-se no estado de alienação seja também emancipado, mesmo que sua ideologia seja oposta?
A palavra emancipação ou liberdade é o que mais se fala. Cada expressão usa todos os meios para apresentar sua causa e justificar a mesma. Mas porque delimitar a emancipação a grupos? Emancipação se destina a apenas alguns grupos? Ou existem categorias de seres humanos que podem se emancipar em detrimento dos outros? A emancipação humana é a emancipação de um grupo? A emancipação humana que precisamos não é apenas política e social, mas ontológica, a emancipação, vai além de uma mera visão de ser humano definido, enlatado em categorias científicas, antropológicas, filosóficas, econômicas, históricas, sociológicas e teológicas, etc. O ser humano encontra-se perdido, estranhado, alienado de si, do outro, e de Deus (tudo aquilo que se torna uma questão última).
E o que me espanta é que estas expressões aparentam serem tão críticas, analíticas e não enxergam que o Estado é um elemento de alienação. É Cérbero em toda sua plenitude, poder – Câmara, Judiciário e Senado – onde cada cabeça deve ser cortada e esfacelada. Ou estas expressões querem o estabelecimento de um estado para si, ou seja, para cada grupo, ou expressão? E a Eklesia fica aonde? Responderei: fica numa casa onde a comunidade chamada para a liberdade de viver para si, para o outro, e a para (deus), (deus que se manifesta de várias formas e maneiras diferentes? Deus tem outras formas? Identidades? Muitas faces?) tem como objetivo, único e exclusivo – emancipar todo ser humano, de toda de forma de escravidão e alienação.   

Edson Pereira