domingo, 1 de outubro de 2017

Diário de um dissidente




Emancipação política: Por quê? Pra quê? Onde? Quando? Quem? Pra quem?




Vivemos em um contexto: em que várias expressões sociais procuram seu espaço, principalmente no campo político e jurídico, onde o problema da emancipação humana reclama sua extensão. Nota-se no cenário mundial e, mais especificamente no brasileiro, onde várias expressões da sociedade reclamam sua autonomia. Me estranha o que estas expressões entendem como emancipação. Qual emancipação? Apenas da sua expressão? Se a emancipação é para todos, porque só a sua? Se a sua expressão é oprimida, quem lhe oprime não é? Clama-se por reconhecimento e igualdade, ela é uma necessidade que se restringe apenas a vós?
Parece-me que nossas utopias políticas, religiosas, científicas e filosóficas, sejam elas quais forem demonstram que suas intenções são diante do problema da emancipação e, portanto da liberdade humana, irrelevantes. Primeiro, e aqui serei bem especifico, a partir do contexto brasileiro. E para tanto, não pouparei nenhuma expressão seja ela qual for. Humanidade é humanidade, e é, nas características pessoais de cada pessoa, isto é, em sua diferença que está à humanidade. É o no outro que minha imagem é revelada. Logo, diferenças dentro do principio de emancipação humana é de sua própria natureza, emergem de suas condições como fruto da cultura e da sociedade. Logo usando uma terminologia do novo testamento cristão, e fazendo uma interpretação dentro desta perspectiva: Eklesia é um espaço onde pessoas, com todas as suas diferenças se reúnem e comungam de um bem ou propósito comum: o estabelecimento da emancipação humana.
Não entendo como estas várias expressões no Brasil fundamentam sua causa baseada numa emancipação que se restringe a uma necessidade de afirmação política e jurídica. Distingo estas expressões em dois grupos. O primeiro, esta corroído por aquilo que tanto abomina – a política. No Brasil a relação de igreja e Estado sempre foi tensa. As chaves de Pedro foi uma forma velada e descarada de interpretação usada para controlar, dominar e alienar o ser humano (sob a tutela do Estado) de si, do outro e, por incrível que pareça: até daquilo que os cristãos chamam de Deus. Temos em nossa república e “democracia” uma classe de religiosos, com objetivos que em sua essência em nada tem de evangélico. O que buscam é espaço, território, um lugar ao sol da terra de Santa Cruz, onde seus objetivos políticos, mesquinhos e dogmáticos possam se afirmar e estabelecer por meio do poder político, amparado pela lei – uma teocracia a serviço da economia como forma de expansão política e ideológica de um cristianismo que não tem nada de Cristo, mas apenas reflete seu conluio com o Estado, Cérbero do inferno. Seria bom, os católicos analisarem isso. Lembram-se de onde tudo começou? A história passa, mas a memória fica!
O segundo grupo ideologicamente, no sentido de emancipação, está voltado à política: na busca de seus direitos e para que estes se tornem reconhecidos e respeitados. E são muitas as expressões... Elas são a minoria, e paradoxalmente, a maioria, que a longo da história sofreram e sofrem, debaixo de um jugo desigual, principalmente no que se refere a emancipação, seja no seu  aspecto político e social – isto em todos os aspectos inerentes a existência humana. Contudo, meu demônio interior soa no meu ouvido e pergunta: Isto que estes do primeiro grupo e do segundo reclamam é emancipação de verdade? Ela se destina a todo ser humano? Essa emancipação tem como ponto de partida o problema concreto de todo ser humano? Estas expressões desejam que todo ser humano que sofre e, encontra-se no estado de alienação seja também emancipado, mesmo que sua ideologia seja oposta?
A palavra emancipação ou liberdade é o que mais se fala. Cada expressão usa todos os meios para apresentar sua causa e justificar a mesma. Mas porque delimitar a emancipação a grupos? Emancipação se destina a apenas alguns grupos? Ou existem categorias de seres humanos que podem se emancipar em detrimento dos outros? A emancipação humana é a emancipação de um grupo? A emancipação humana que precisamos não é apenas política e social, mas ontológica, a emancipação, vai além de uma mera visão de ser humano definido, enlatado em categorias científicas, antropológicas, filosóficas, econômicas, históricas, sociológicas e teológicas, etc. O ser humano encontra-se perdido, estranhado, alienado de si, do outro, e de Deus (tudo aquilo que se torna uma questão última).
E o que me espanta é que estas expressões aparentam serem tão críticas, analíticas e não enxergam que o Estado é um elemento de alienação. É Cérbero em toda sua plenitude, poder – Câmara, Judiciário e Senado – onde cada cabeça deve ser cortada e esfacelada. Ou estas expressões querem o estabelecimento de um estado para si, ou seja, para cada grupo, ou expressão? E a Eklesia fica aonde? Responderei: fica numa casa onde a comunidade chamada para a liberdade de viver para si, para o outro, e a para (deus), (deus que se manifesta de várias formas e maneiras diferentes? Deus tem outras formas? Identidades? Muitas faces?) tem como objetivo, único e exclusivo – emancipar todo ser humano, de toda de forma de escravidão e alienação.   

Edson Pereira

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