Edson Pereira
Introdução
A beleza da religião
cristã pode ser percebida, na arte, na liturgia, literatura e em sua teologia
dogmática. Contudo o que tem de mais expressivo nesta beleza é sua diversidade. Diversidade expressa ao
longo da sua história, completamente contextual sem, todavia perder sua s raízes
passadas, mas a partir delas elaboravam sua teologia e que hoje podem ser
trazidas as nossas memórias nos identificando com suas histórias.
Neste texto nos
propomos apresentar alguns destes cristianismos marcados por sua diversidade e
em razão disto considerados heréticos pela igreja oficial. Em primeiro lugar
veremos quem foram estes cristãos, segundo, suas origens e em terceiro lugar
sua teologia e por último destacaremos um dentre estes movimentos apontando sua
importância no estudo da teologia contemporânea.
I.
Quem foram os albigenses?
Movimento cristão com ideias anticlericais,
dualistas – acreditavam na existência de um mundo espiritual bom e de um mundo
material ruim. O primeiro criado pelo deus bom o segundo pelo deus mau. Eram
gnósticos – consideravam a encarnação de Cristo como apenas aparente, pois era
impossível o divino ter contato com a matéria que era impura e obra do deus
mal. Outra característica deste movimento era o ascetismo extremado. Podemos
dividi-los em dois grupos: Perfeitos e Crentes. O nome Albigenses surgiu em
decorrência da cidade de Albi no sul da França lugar de muita influência do
movimento, eram conhecidos também como Cátaros que significa puros.
1.
Origem do movimento
A
origem do movimento nós podemos dividir em dois momentos. O primeiro do ponto
de vista histórico resultou “das
mudanças culturais, sociais e econômicas dos séculos XI e XII” (FALBEL, 1976,
p. 39). Em segundo, do ponto de vista religioso
com a ênfase dada à formação clerical e sacramental os leigos constituídos de “cavaleiros
pobres, mercadores e artesãos” (FALBEL, op. cit., p. 38) que ficaram a margem
dos assuntos relacionados à igreja o que propiciou sua rápida disseminação e
desenvolvimento. Abrangendo “Alemanha Ocidental, Flandres, França e Norte da
Itália” (FALBEL, loc. cit.).
2.
Teologia
Em primeiro lugar sua teologia é fortemente
marcada pelo dualismo – “perfeito e o imperfeito, o absoluto e o transitório, o
eterno e o temporal, o bem e o mal, o espírito e a matéria” (FALBEL, op. cit.,
p. 53). Logo existiam duas divindades uma boa e outra má. Sendo que o primeiro triunfaria no final
sobre o segundo, salvando a todos. Para isso o deus bom enviou Cristo, um anjo
que se dispôs a salvar a todos que estavam cativos a carne, obra do deus mal.
O Antigo Testamento foi repudiado por
constituir-se criação de Jeová – deus mal. A mensagem de Cristo tinha como
referencia o Evangelho de João responsável de trazer conhecimento e libertação.
Negavam a encarnação, morte e ressurreição de Cristo - gnosticismo.
Sua eclesiologia era exclusivista apenas
aos Perfeitos que recebiam o consolamentum (ritual de introdução ao catarismo)
faziam parte da igreja. Para os demais neste caso o grupo dos Crentes seria
necessário receber o consolamentum e assim tomar parte junto aos eleitos ou
espirituais neste caso os Perfeitos. Praticavam a ascese e celibato. O pecado
originava-se do céu e não existia inferno e purgatório.
II. Quem foram
os Valdenses?
Movimento cristão de pregadores itinerantes
que cultivavam a pobreza, simplicidade e a penitência como sinal de autenticidade
e identidade apostólica e cristã.
1.
Origem do Movimento
Podemos dividir em
dois momentos que estão intrinsecamente relacionados. O primeiro se refere aos
males trazidos da igreja oficial. O seu ideal de simplicidade e humildade fora
trocado por riqueza e poder. Provocando no coração de alguns (mas) o desejo de
voltar à simplicidade do Evangelho.
É neste contexto
que Pedro Valdo em mais ou menos 1173 e 1176, depois de ouvir uma canção que
falava da vida abnegada de São Aleixo, solicitou ao um teólogo o que fazer para
se chegar até Deus e ele prontamente citou “Se queres ser perfeito, vai, vende
os teus bens, dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem, e
segue-me.” Ao ouvir o texto bíblico pôs em prática literalmente dando inicio ao
movimento (WALKER, 2006, p. 355).
2.
Teologia
Para os valdenses até Constantino a igreja
cristã era pura e pautada pelos ideais de Cristo e dos Apóstolos. Com a
ascensão do Papa Silvestre a igreja perdeu sua identidade cristã e apostólica.
Sua doutrina pode ser dividida em duas
categorias: Aqueles do “Norte dos Alpes e os da Lombardia” (FALBEL, op. cit. p.
63). O primeiro, afirmavam a proibição dos juramentos no Evangelho, o poder
civil não podia exercer a pena de morte, o sacramento do altar poderia ser
consagrado pelo leigo e por último negavam que a Igreja Romana pudesse ser a
Igreja de Cristo.
O segundo grupo proibia a consagração dos
sacramentos por meio daqueles que havia cometido pecado mortal, associavam a
igreja romana como a mulher prostituta representada no apocalipse e em decorrência
disso a doutrina católica e seus dias de jejuns não deviam ser obedecidos.
Sua eclesiologia era hierárquica formada
por Bispos, Presbíteros e Diáconos. O bispo era responsável pela administração
dos sacramentos da penitência, da ordem e da eucaristia e delegava aos
presbíteros o direito de pregar o Evangelho e das confissões auriculares. Ao
bispo cabia absolvição dos pecados confessados.
Aos presbíteros cabiam funções como: ouvir
as confissões sem, contudo poder absolver os pecados, no caso da morte de um
bispo poderiam eleger ou ordenar um bispo. Os diáconos eram responsáveis de
auxiliar o bispo e os presbíteros em suas carências materiais. Era-lhes
restringindo ouvir confissões.
III.
Quem foi Joaquim de Fiore?
Abade Cisterciense da Calábria,
asceta respeitado, dedicado a igreja e fundador da congregação cisterciense
reformada.
1.
Teologia
No centro de sua teologia esta a
Trindade. Para Joaquim a Trindade se manifestou em três épocas distintas na
história da salvação. Com quarenta e duas gerações de trinta anos cada uma. A
primeira é denominada a Idade do Pai que esta relacionada à letra da lei do
Antigo Testamento, momento dos desposados e leigos. Segunda, Idade do Filho é
uma transição do espírito e da carne ou momento dos clérigos. A última é a
Idade do Espírito Santo, dos monges com inicio em 1260, com a pregação do
Evangelho Eterno, trazendo uma interpretação espiritual que seria transmitida
através de uma ordem monástica nova, transformando a igreja carnal em uma
igreja perfeita.
IV.
Os valdenses e sua importância para teologia
contemporânea
Em
primeiro lugar devemos destacar a teologia Valdense importante para nosso
contexto principalmente Latino Americano que no seio de suas igrejas e
lideranças são caracterizados por poder e riquezas desnecessárias. São igrejas
que se preocupam mais com o seu status monetário e político do que com mensagem
simples e igualitária do Evangelho.
O ideal de pobreza e simplicidade do Evangelho
são trocados por pompas e mensagens triunfalistas apresentando Deus como a
favor de uma classe rica e saudável e em oposição aqueles (as) que não atingem
este ideal e logo são considerados amaldiçoados (as) por Deus ou absurdamente
denominados (as) de sem fé.
Outro
destaque é a mensagem de arrependimento que os Valdenses inspirados em Cristo e
nos Apóstolos proclamavam. As nossas igrejas se preocupam mais em atender as
demandas mercadológicas de esteira capitalista do que glorificar a Deus. Por
isso as pessoas são vistas apenas como clientes, possibilidades de negócios,
apresentando Deus apenas como um produto ou um mágico que fará tudo aquilo que
seus desejos egoístas quiserem. Com isso queremos dizer que as mensagens de
nossas igrejas são antropocêntricas, o homem e não Deus é centro destas
mensagens. Por isso em primeiro lugar devemos pregar a mensagem de
arrependimento, pois ela é prelúdio do Reino de Deus.
Considerações finais
Conhecer
estes movimentos, suas origens e seus pensamentos nos situam ao momento
histórico, contextual e memorial. Histórico porque a “distância histórica, ao
proporcionar um foco situado além do que tomamos como certo, pode ser um
componente surpreendente da compreensão contemporânea” (LINDBERG, 2001, p. 14).
Contextual porque estes movimentos surgiram a partir da sua vivência que
proporcionaram a eles formular uma teologia que atendesse a suas necessidades e
utopias de um povo sofrido e marginalizado muitas vezes pela própria religião. Memorial
porque nossa “memória é o fio condutor de nossa identidade pessoal” (LINDBERG,
loc. cit.).
Referencias Bibliográficas:
1.FALBEL, Nachman. Heresias Medievais. 1. ed.
São Paulo: Perspectiva, 1976.
2.LINDBERG, Carter. Reformas na Europa. Trad. Luís Henrique
Dreher e Luís Marcos Sander. São Leopoldo: Sinodal, 2001.
3.WALKER, Wiliston. História da Igreja Cristã. Trad. Paulo
D. Siepierski. 3. Ed. São Paulo: ASTE, 2006.