Edson Pereira
Introdução
Nossa reflexão sobre o Espírito tem quatro objetivos. Dar
uma descrição do significado semântico sobre o Espírito. Segundo, a ação do
Espírito na humanidade. Em terceiro, a ação do Espírito na vida de Cristo de
acordo com as narrativas e tradições dos Evangelhos e por último como se deu a
masculinização do Espírito e suas consequências para a cristandade.
A semântica
do Espírito
A
Pneumatologia resulta da articulação empírica e histórica das comunidades
judaicas e especificamente cristãs. Através da linguagem estas comunidades procuram
descrever suas experiências com Deus. O Espírito Santo é compreendido e por
isso representado como: vento, pessoa, ação, força criadora que atua e mantém a
criação, ampliando o desenvolvimento da vida humana e da natureza ilimitadamente
(MOLTMANN, 2010, p. 50-52).
Por
isso podemos afirmar que o Espírito Santo é vento que sopra soberanamente na
cultura e natureza ativamente. Produz vida e a mantém. O Espírito Santo é
pessoa, neste sentido nele e com ele e através dele podemos nos relacionar em
amor com Deus, com o ser humano e com o cosmo. No Espírito a vida está sempre
ampliando seus horizontes. Nele nossas utopias são vivificadas, alimentadas e
estabelecidas.
Através
do Espírito, Cristo tem sua vida, obra, morte e ressurreição atualizadas na
igreja e no mundo. (RIBEIRO, 2010, p. 120-124.). O Espírito é a porta de acesso
em que Deus por Cristo se encarna para na cruz reconciliar a humanidade caída e
reuni-la na sua comunhão (FORTE, 1995, p. 158).
Ações do
Espírito na humanidade
De
acordo José Comblin (apud, RIBEIRO, 2010, p. 132) o tempo da ação do Espírito
se dá na história em sinergia com a humanidade. Esta ação é transformadora,
isto é, a humanidade que sofre de injustiças e explorações, oriundas de
impérios predatórios tanto políticos como religiosos, terá suas vidas pessoais
e comunitárias modificadas pelo estabelecimento do Reino de Deus. Reino
alicerçado no amor, na justiça, solidariedade e paz. É ação universal e
inclusiva. Todos participam e desfrutam da graça e vida do Espírito.
A ação do Espírito na
vida histórica e teológica de Jesus
Nos
Evangelhos percebemos que a vida de Jesus tanto histórica quanto teológica foi
resultado da ação do Espírito (MOLTMANN, 2010, p. 67). Por meio do Espírito
Jesus nasceu, pregou o Evangelho do Reino, o ser humano foi atendido de forma
integral, o amor e a graça de Deus afetaram a todos, mas especificamente os
pobres, seu kerigma foi vivificador e curador.
Podemos
dizer que o ministério de Cristo foi o ministério do Espírito. Em todos os
momentos do seu ministério, de serviço, comunhão, tentação, alegria, tristeza e
dor, o Espírito estava intrinsecamente relacionado com a vida, obra, morte e
ressurreição de Jesus.
A masculinização do
Espírito e suas consequências
A
masculinização do Espírito surgiu a partir de alterações conceituais com
relação à semântica. Consequentemente o cristianismo perdeu sua identidade com
o Cristo.
Com
a masculinização do Espírito o cristianismo ficou sem posse de sua alteridade,
dinamicidade, comunhão e poder kerigmático.
Surgiu
um tipo de cristianismo “oficial”, fechado nos seus dogmas e preceitos. Aqueles
e aquelas que não vivenciam suas práticas são colocados à margem, daí surge o
conceito de cristianismo marginal. O cristianismo marginal é constituído de
pessoas como crianças, negros, escravos e principalmente mulheres relegados a
um tipo de cristianismo secundário. Secundário, por que estas pessoas não são
vistas a partir da gratuidade do evangelho que nos faz em Cristo um só corpo
sem distinção, mas de dogmas estereotipados, tiram destes (as) o direito de
lideranças eclesiais e políticas.
O
cristianismo com toda a sua dinamicidade étnica, cultural, musical, teológica,
cúltica e literária ficou “enlatado” num formalismo rígido e padronizado. A
expansão ativa e eficaz do Espírito ficou fora de cogitação.
O
cristianismo deixou de ser ecumênico, tornou-se fundamentalista, elitista,
egoísta e mercadológico. As instituições não procuram mais o diálogo, a
confraternização, a reconciliação, a comunhão, o serviço, marcas vitais do
cristianismo.
Por
isso nosso discurso é dúbio, hipócrita, sem gosto, superficial e longe do ideal
do reino. É muito parecido com o discurso dos fariseus que eram carregados de
uma rígida e reta doutrina, contudo era ineficaz, não produzia vida, amor, paz
e o estabelecimento da justiça.
Considerações finais
O Espírito é Deus em pessoa, caráter, força, poder, vida,
expansão e amor. É ação vivificadora, transformadora e promotora do
estabelecimento do Reino de Deus que é caracterizado por justiça, paz e amor.
Jesus e Espírito se confundem como consequência da
alteridade e unidade no plano cósmicosalvífico, sem deixar de lado suas
peculiaridades como pessoas. Vida, obra, morte, ressurreição e kerigma de Jesus
foram intrinsecamente movidas e relacionadas com o Espírito.
A masculinização do Espírito alterou e prejudicou proclamação
do Evangelho. Todos os valores do Reino como alteridade, comunhão,
reconciliação, dinamicidade, comunhão e autoridade kerigmática foram
sacrificados. O que sobrou foi um cristianismo rígido, formalista, sem vida,
sem testemunho, fundamentalista e hipócrita. Esqueceram que a vida cristã é
vida no Espírito. Viver no Espírito é ter vida em intensidade, liberdade,
amplidão, paz, amor e justiça, contra estas coisas não a formalismo
dogmático.
Referências
bibliográficas
FORTE, Bruno. Teologia da história: ensaio sobre a
revelação, o início e a consumação. São Paulo: Paulus, 2010.
MOLTMANN, Jürgen. O Espírito da Vida: Uma pneumatologia
integral. 2 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.
RIBEIRO, Cláudio de
Oliveira. Teologia em Curso: temas da fé em foco. São Paulo: Paulinas, 2010.
(Coleção iniciação teológica).
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