quarta-feira, 29 de abril de 2015

Fazer teologia

Edson Pereira

            A teologia em sua natureza tem como objetivo compreender e interpretar a vida  humana. Para isso ela articula rigor metodológico e científico e por outro lado liberdade e intuição. Para essa articulação a hermenêutica é fundamental.
            Na história da igreja desde seu nascedouro no caso judaico-cristão, sempre ouve tensões acentuadas sobre postulados da fé e razão. Mas com o advento do Racionalismo e Iluminismo no Ocidente a igreja tomou posições para se defender e revelar seu caráter atual e relevante para essas questões propostas sobre a fé e a Bíblia. O liberalismo teológico surge no século XIX como uma voz na articulação entre fé e razão. Os teólogos  Scheleimacher, Ritschl, Harnach e outros, foram estas vozes que discutiram a possibilidade de relação entre fé e ciência. 
            Em razão do seu conformismo cultural e presa às rédeas da ideologia dominante no caso da Alemanha nazista1 o liberalismo tornou-se repulsivo, até mesmo teólogos como Adolfo Von Harnach2 se posicionaram a favor das políticas demônicas do nazismo. Fato que todas as propostas de um mundo e homens melhores como proposto por esse método na passava de utopia, pois a guerra veio esfacelar todo esse positivismo posto na capacidade humana.
            Neste contexto de desilusão surge um novo método chamado de neo-ortodoxia ou Teologia Dialética. Tendo como principal teólogo o suíço Karl Barth e depois teólogos como Brunner, Bonhoffer e outros. Eles elaboraram métodos que podemos dizer estavam próximos dos reformadores como: fé, graça, corrupção do ser humano, cristologia, centralidade da Bíblia, política e etc.
Desde então surgiram vários métodos teológicos. Destacaremos apenas dois, devido sua relevância no contexto da teologia.  O primeiro é o método da correlação de Paul Tillich. Trata-se de um método que procura explicar os conteúdos da fé cristã pela  interdependência entre questões existenciais e as respostas teológicas. O segundo método é a teologia latino-americana da libertação elaborada por teólogos como: Gutierrez, os irmãos Boff, Comblin, Miguez-Bonino, J. de Santa Ana, Elza Tamez e outros. Este método visa articular teoria e prática por meio da Bíblia nos grupos populares, com ênfase especial na realidade desumana e opressiva vivida pelas populações empobrecidas da América Latina.
Em nosso tempo precisamos também articular uma teologia que responda as necessidades da igreja e da sociedade, Por isso precisamos não nos amoldarmos aos princípios desta geração que tem como fundamento uma antropologia baseada no egoísmo e não nas necessidades existenciais do ser humano que reclama, busca e implora por uma teologia libertadora e generosa e que encarne o amor de Cristo de forma holística.

Notas: 
1. MCGRATH, Alister. Paixão pela verdade: a coerência intelectual do evagelicalismo. São Paulo: Shedd Publicações, 2007, p.51.
2. op. cit., p.52.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Existe protestantismo no Brasil?

Edson Pereira


Hoje o título de protestante virou moda no Brasil, mais será que existe protestantismo mesmo?

Primeiro, o nome Protestantismo surgiu em decorrência da não aceitação dos príncipes alemães em concordarem com a ideia católica de ser única igreja e que fora dela não há salvação. Segundo, Protestantismo é sinônimo daqueles que seguem o pensamento de Lutero em que só a graça é suficiente para a salvação independente de obras. No Brasil isso é distorcido principalmente por meio daqueles que se dizem protestantes.

O protestantismo original pregava que a salvação era fruto da graça Divina independente de obras e isso foi o que levou Lutero, Calvino entre outros a contestar a teologia Católica e não as questões de imagens como os evangélicos equivocadamente atribuem ao surgimento deste “novo” pensamento teológico que perdura até os dias de hoje na cabeça daqueles (as) que chamo de religião do senso comum (aquilo que é passado nas denominações evangélicas, contudo sem nem uma base teológica).

Por isso a salvação hoje é determinada por aquilo que fazemos e não por aquilo que Cristo fez o que é totalmente contrário ao protestantismo. No meio evangélico (não usarei mais protestantismo até porque entendo que não existe protestantismo no Brasil) brasileiro a salvação esta relacionada ou reduzida a uma questão moral e que trocados em miúdos é mais anticatólico e cultural do que bíblico. Os primeiros missionários oriundos dos USA influenciados pela teologia moralista e anticatólica introduziram um tipo de evangelho híbrido e plantonista totalmente distante da bíblia e do protestantismo que seria determinante na construção teológica do Brasil.

Isso é perceptível na forma como os evangélicos entendem a questão do pecado. Pecado é mais uma questão moral e não teológica como afirmava Jesus e Lutero. Darei alguns exemplos: As pessoas denominadas “não salvas” são identificadas por práticas como – beber, fumar, dançar, ouvir músicas que não falam de Deus, etc. estes não são salvos e não herdarão o “Reino dos Céus”, os salvos seguem a via contrária destes. Pergunto qual base bíblica para tal afirmação?

Todo Cristianismo que despreza a vida e a cultura não é Cristianismo mais um platonismo ou gnosticismo ocultado. Cristo nunca desprezou a vida e a cultura, ele era homem comum do povo e para o povo, por isso os religiosos da época assim como vocês evangélicos o ignoraram é só lê Jo 2, Mt 11. 16-18.

No Brasil se prega um Cristianismo que nem Cristo viveu e muitos ignorantemente seguem e aceitam sem restrição, até porque a aparência é “evidência da salvação” e não a obra de Cristo. Pergunto qual a diferença para o catolicismo que prega a salvação por obras? (me respondam evangélicos). Vocês evangélicos sabiam que os grandes homens de Deus no passado não desprezavam a sua cultura mais estavam imersos nela? Vocês sabiam que homens como Lutero, Calvino, Charles Spurgeon Wesley, Karl Barth e Dietrich Bonhoeffer (na imagem acima)  entre outros: gostavam de literatura, filosofia, política, bebiam, fumavam, dançavam, comiam, faziam amor e viviam a vida como ela é ou como diz o pregador em Eclesiastes 9. 7-10 ou Deuteronômio (esse é pra arrepiar cabelo de careca) 14.26? (alguns (as) vão “jumenticamente” falar que é uma questão cultural, ou seja, que é relativo à cultura! Ah! É! Se for o pecado também é relativo à cultura?) E que todo o legado daquilo que vocês desconhecem que chamo de protestantismo e que estes homens foram os grandes baluartes da fé Cristã? E vocês qual legado tem deixado para o Brasil? Respondo: falso moralismo, hipocrisia, falsa espiritualidade, anticatolicismo, concorrência denominacional e mercadológica, soberba, avareza, dissenção, gnosticismo, dualismo e idolatria? É isso que vocês chamam de Evangelho? Nascer de novo?  Por favor, conheçam um pouco da história da Igreja e da Bíblia deixem de ser ignorantes e hipócritas! Quem vive de aparências é museu, o cristão vive pela fé no Cristo.

terça-feira, 14 de abril de 2015

O gênero apocalíptico

Edson Pereira


                       
Introdução

        A partir do gênero apocalíptico queremos apresentar algumas das influências teológicas Persas e helênicas que moldaram a teologia judaica. Segundo, apresentar algumas características do apocalipsismo e por último indicar alguns elementos do gênero apocalíptico presentes no cristianismo brasileiro.




Influências teológicas persas e helênicas na teologia judaica


A primeira influência é persa. Com influência a persa o povo Judeu criará uma nova forma de se compreender o divino. O Deus do Êxodo, da caminhada, imanente será substituído pelo Deus etéreo, metafísico, distante. Daí surge novas formas de conceber o divino como Deus dos Céus. Isso se deu provavelmente em decorrência das frustrações geradas pelas opressões imperiais sofridas ao longo da história. Suas crenças teológicas estavam baseadas na fidelidade de Deus e tinha como consequência a proteção divina diante dos impérios. O que mudou essa concepção depois que os judeus ficaram debaixo do domínio de três grandes impérios: Assírio, Babilônia e Persa (NOGUEIRA, 2008, p. 16).

Outra influência esta relacionada ao dualismo religioso como de dois princípios absolutos, de oposição, o bem e mal, Deus e Diabo. A ideia de anjos como intermediários, mensageiros e interpretes das revelações divinas e por último teremos uma releitura da lei e da aliança em que os judeus buscavam formas onde Deus pudesse voltar agir em seu favor (MESTERS; ORFINO, 2008, p.28-29).

A influência helênica. Por causa da influência helênica a identidade social e religiosa do povo estava correndo risco principalmente os pobres que eram explorados. A casta sacerdotal estava corrompida em decorrência do desejo desenfreado de poder e domínio. Por isso apoiavam as políticas helênicas e antijudaicas de Antíoco IV que profanou o templo e proibiu práticas cultuais e litúrgicas que era peculiar a tradição judaica e passou a perseguir aqueles que teimassem em seguir a sua tradição. Daí eclodirá a guerra dos Macabeus que no princípio tinha como objetivo de trazer de volta identidade religiosa e cultural o que infelizmente não aconteceu. Estes acontecimentos serão responsáveis de dar formas a textos ou escritos literários e movimentos apocalípticos (MESTERS; ORFINO, op. cit. p. 30-31).


Características do apocalipsismo


·         Revelar e denunciar as opressões políticas e sociais - uma visão real da realidade.

·          Linguagem que evoca lembranças e esperanças para comunidade por isso é espaço cúltico.

·         Trazer a memória da comunidade relatos das ações de Deus e assim fortalecer a fé da comunidade em sua caminhada.

·         Convida a uma fé resistente em meio à violência, perseguição e diante da falta de esperança, lança mão do passado e aponta para esperança futura e utópica a partir do estabelecimento do reino de Deus.


Elementos do gênero apocalíptico presentes no cristianismo brasileiro. 

O primeiro elemento do gênero apocalíptico presente no cristianismo brasileiro que queremos destacar esta na teologia da Libertação. Esta a partir de uma análise crítica e vivencial percebe as condições dos pobres em estado de opressão e sofrimento originados de políticas governamentais e capitalistas. A teologia da libertação se junta à causa, revela e denunciam estas ações opressoras como também fortalece a fé dos pobres e alimenta suas utopias.

Segundo, temos as tradições cristãs como Adventistas do Sétimo, os Pentecostais e as Testemunhas de Jeová. Aguardam a chegada do Reino de Deus e enquanto isso não acontece procuram fortalecer a fé dos seus fiéis e incentivá-los a resistirem às tentações do sistema mundano e opressor.

Por último temos as liturgias, no catolicismo o simbolismo, as vestes litúrgicas e ritos expressos na missa. Também temos a música em todas as tradições cristãs brasileiras que cantam textos de cunho apocalíptico.




Considerações finais


            Neste texto destacamos as influências tanto persa como helênica na construção teológica dos judeus. Segundo destacamos algumas características do gênero literário apocalíptico que são fundamentais na compreensão e interpretação deste gênero. E por último, a partir da nossa brasilidade é possível perceber a força e o sentido que este gênero traz para as nossas comunidades cristãs.  






Bibliografia

MESTERS, Carlos; OROFINO, Francisco. Apocalipse de João: A teimosia da fé dos pequenos. 2 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

NOGUEIRA, Paulo. O que é apocalipse. São Paulo: Brasiliense, 2008 (Coleção Primeiros passos).





    

sábado, 11 de abril de 2015

Sem o brilho dos olhos

Edson Pereira
 
Quando falamos em brilho no olhar não queremos dizer de luzes que refletem sobre os olhos, mas nos referimos ao brilho que vem das entranhas da alma que emite luzes tornando os olhos em faróis onde é possível ver à origem da luz. Luz essa que revela vida, alegria, desejos, esperanças, realizações...

Sendo assim quando este brilho não emite luz é porque a alma esta com algum problema. Problema este que faz o brilho dos olhos opaco, sem forma, sem vida. O que torna quase impossível saber realmente o que estar acontecendo.

Contudo, se o brilho dos olhos revela vida, alegria, desejos, esperanças, realizações... Essa penumbra envolta da alma também manifesta, que quando o brilho dos olhos é ofuscado, significa que a vida perdeu sua graça, beleza... Tudo em volta já não é o mesmo, é tudo tão estranho e diferente! Os desejos instintivos e intelectuais não passam de passado... Alegria é utopia perdida... 

Não existe esperança, porque não existe mais horizonte... O mundo não tem mais beleza, as flores não tem mais perfume, a comida não tem mais sabor, a lua e as estrelas perderam o seu sentido de belo e poético e o sol nem mesmo reflete no olhar porque deixou de brilhar. É vida sem sentido, é vida sem fé. E se não tem fé é porque Deus não é mais significativo, foi ofuscado, destronado pelas trevas em volta da alma. 

O que sobra é caos, angústia, medo, dor, sofrimento. Vida e morte tornam-se tênue, são polos distantes que se aproximam e em algum momento se confundem. É limbo onde se é lançado em uma imobilidade física e emocional. E como Íxion que foi condenado por Zeus a passar a eternidade preso a uma roda cercada por serpentes de fogo, assim se encontra alma sem sua luz.