Edson Pereira
Vivemos
em sociedade e acredita-se que é impossível viver isolado dela. A sociedade é
anterior ao indivíduo e só na sociedade o indivíduo encontra sua identidade e
razão de ser. É na sociedade por meio de seus mecanismos ou leis, morais,
jurídicas que encontramos códigos de como deve ser a vida, a conduta de todo aquele
que surge das suas entranhas e nela é inserido. Significa dizer que a sociedade
por meio de seus mecanismos dita, controla a vida dos seus cidadãos diretamente
e indiretamente. Por isso, é comum dizer que fulano, é fruto de sua época ou
tempo. O que ponta para a ação e influência da sociedade.
Contudo, na tradição
filosófica temos a solidão como um contraponto não no sentido de separação
plena, absoluta do convívio social como alguns grupos religiosos do Ocidente e
Oriente. Mas no sentido de distanciamento para o cultivo de si mesmo, da
autoanálise, autocritica, de uma reflexão voltada para homem psíquico.
Poderíamos dizer que é na solidão que conhecemos a origem de nossas crenças,
costumes, visões. É nela que nossa individualidade e caráter são revelados e depurados.
É na solidão que conhecemos nossas intenções, valores. É na solidão que nossos demônios
e sombras interiores que vivem a margem da sociedade se mostram, se revelam.
A solidão em nossa
sociedade é vista como algo doentio, depressivo, estranho e antissocial. A boa
filosofia afirma que a solidão é necessária, fundamental. A solidão mostra ao
ser humano quem ele é. Na solidão não tem como se esconder da realidade, não
tem como fantasiar, ás máscaras sociais em busca de apresentar uma falsa aparência
não serve, é inútil, vazia, sem forma. Só resta o que é. O que somos. Não
existem mais bengalas para nos apoiarmos, apenas nós mesmos. Na solidão temos
oportunidade rara e única de usarmos óculos com duas lentes: uma permite ver a
nossa vida em sociedade e conhecer sua ideologia. A outra vê nossa vida
interior, psíquica e visa mostrar a nós mesmos quem somos.
Nesta perspectiva a
solidão é para quem aprendeu a conviver consigo mesmo uma fonte. Que encontra
em si tudo aquilo que precisa. Que aprendeu a conviver com suas potencialidades
e aceita humildemente suas debilidades. Que sabe conviver com seus demônios e
sombras interiores e por esta razão integra-os a sua vida. Que aprendeu a andar
com seus próprios pés em meio a uma sociedade massificadora, em série e gregária.
E que é possível ser único, singular, mesmo convivendo em uma sociedade
massificadora e alienante.