De que lado você está?
De
que lado você está? Muita gente já mim indagou. Contudo, eu pergunto: porque só
estes dois lados? Só existem eles? Eles são capazes de abarcar toda a
complexidade, ambiguidade, contradição que envolve todas as dimensões da
existência humana?
Vou
tentar apontar: não um lado, mas vários lados. E desde já responder que os meus
lados, não tem nada haver com estes dois lados – tanto do ponto de vista –
acadêmico, antropológico, científico, educacional, econômico, epistemológico,
ético, filosófico, histórico, metodológico, moral, político, religioso, social,
teológico: se faltou alguns nomes me perdoem!
Só um pouco de conceito criado por estes dois lados reducionistas da
vida, do todo, da verdade e de todo o conhecimento que envolve a existência
humana.
Meus
lados surgiram destes dois lados: que ao transitar por eles percebo aquilo que
pode existir de mais dogmático e metafísico e que se impõe a todas as dimensões
da vida cultural como: verdade dita, pronta, acabada, sem nenhuma reticência. E
hoje, por causa destes dois podemos perceber como está a vida humana e do cosmo:
um caos em todos os sentidos.
Por
isso vou falar dos lados, que assim como eu, se contrapõe a estes dois lados. E
nestes lados estarão claros, nítidos, explícitos pressupostos de uma tradição
filosófica- profética que escorre e percorre (meu sangue) por todos os pontos de vista que
apresentei no segundo parágrafo.
Estou
do lado do órfão e abandonado que precisa de acolhimento, cuidado, amor e de um
lar e assim ter uma boa formação para uma vida plena.
Estou
do lado da viúva que mendiga o pão trabalhando duro para manter seus filhos e
espera melhores condições de vida.
Estou
do lado do trabalhador, que sonha todas as noites com melhores condições de
vida para si e sua família, e pela manhã, nutrido deste sonho sai em busca de sua realização.
Estou
do lado do mendigo, daquele que pede um pedaço de pão, e que denuncia com sua
própria vida e condição: a miséria que o sistema político e econômico tem
transformado a vida de milhares de seres humanos.
Estou
do lado dos meus irmãos e irmãs que diante da guerra e do terrorismo que lhes
roubou tudo aquilo que durante anos, gerações: foram o cimento da vida e de sua
cultura. E agora se lançam no mundo em busca de apoio, solidariedade e abrigo
na busca de recriar e recomeçar uma nova vida e novos horizontes.
Estou do lado daqueles que sofrem dos horrores da violência, injustiça e corrupção que solapam o mundo, e o Brasil, como Estado, como Nação.
Estou
do lado dos dissidentes, dos heréticos, dos subversivos, dos politicamente
incorretos que buscam a marteladas destruir todo discurso institucionalizado,
dogmático que tem alienado o ser humano de si, do outro e do fundamento do ser –
Deus (para aqueles que acreditam claro!).
Estou
do lado do pobre, daquele (a) que busca todos os dias sair da escravidão
provocada pela pobreza que constantemente lhe esmaga, mesmo sem saber a causa
(?), alimenta o desejo de um mundo mais justo onde todo ser humano possa viver
dignamente.
Estou
do lado daqueles que estão cansados, abatidos e sobrecarregados: pelos ídolos do
mercado científico, econômico, filosófico, político, religioso que se impõe
descaradamente em nome de crenças e ilusões criadas com alcunha de verdade.
Estou
do lado do religioso confuso, duvidoso, em crise, com tudo aquilo que lhe foi injetado
na consciência em nome de Deus, mas que hoje entende que a questão da existência
vai além de dogmas e doutrinas cristalizadas.
Estou
do lado daqueles que perderam tudo, inclusive o sentido da vida e hoje em meios
aos escombros buscam reinventar suas vidas e histórias.
Estou
do lado de todos os marginalizados pelas instituições e moralidades vigentes
que remando contra tudo e todos permanecem na luta pela liberdade em todas as dimensões
da existência.
Estou do lado daqueles (as) que por causa da cor, orientação sexual fogem dos ditames de uma moral castradora.
Estou
do lado do doente, do fraco que todos os dias lutam pelo restabelecimento de
sua saúde.
Estou
do lado daqueles (as) explorados, estuprados, abusados, maltratados e que até
hoje não conseguiram se livrar dos traumas e demônios que lhe perseguem na memória
e no corpo.
Estou
do lado dos sem vozes, ouvidos, olhos, pernas e braços, tanto no sentido literal, como político
destas palavras.
Estou
do lado da vida, da natureza, do universo que clama pela libertação das amarras
e grilhões dos homens perversos, insaciáveis do poder, destruição e sangue.
Estou
do lado do cientista que busca fazer uma ciência que contribua para o bem estar
humano e de todo ecossistema.
Estou
do lado de uma educação criativa, em expansão, humana, solidária, crítica e
libertadora.
Estou
do lado dos sem rostos, dos anônimos que foram suplantados e sufocados por
todos esses sistemas heterônomos, mas que das entranhas de suas almas estão
impressos, marcados pelos seus ideais – que nenhum sistema pode lhes arrancar.
Sei
que faltaram vários lados e que outros vão surgir... Devem ser meus devaneios! Mas se estes convergirem
para os lados que foram acima apresentados para estes digo: estamos juntos,
estamos do mesmo lado. Pronto: é desses lados que estou. Mais alguma pergunta?