Edson Pereira
O
que define o ser humano como ser humano? Os mitos são a forma mais antiga e bem
elaborada de definição, isto se, a palavra definição, que implica em exatidão
de sentido e abstração possa abarcar toda ambiguidade, complexidade,
profundidade que traspassa e limita todas as tentativas: antropológicas,
científicas, filosóficas, históricas, psicológicas, sociológicas e teológicas
que ao longo do engendramento de definir o ser humano como ser humano caíram
nas teias do dogmatismo frio, fechado e enclausurado. Estas tentativas criaram
sistemas e epistemologias que tornaram o ser humano um hiato de si e do outro
perdido em meio ao vazio, ou num limbo existencial.
No
mito, o ser humano tem uma origem ambígua. Ambiguidade que se expressa em todas
as dimensões da sua existência: imanência ou existência? Nisto consiste a
complexidade humana derivada de diversos fatores culturais que lhes moldam e
transfiguram a sua existência de acordo com as teias ou modelos dogmáticos,
sistemáticos e epistemológicos que buscam suspender o ser humano em “fôrmas”,
categoriais que podem descrever e, portanto definir o que é ser humano.
Esquecem que as profundas e infindas lacunas no e do ser humano permitem uma
aproximação e não definição. Na cosmogonia dos mitos temos a origem, o germe do
ser humano, não sua forma definida, acabada. No mito babilônico, Gilgamesch é
um belo exemplo da busca humana por respostas existenciais que até hoje são
aporéticas: Qual é a origem humana? O que é o ser humano? Como o ser humano pode ser definido?
Prefiro
a epistemologia mitológica de ser humano do que todas as formas epistemológicas
de definições que encasteladas em si provocaram uma cisão no ser humano. Assim
como o herói da mitologia babilônica em sua tentativa de alcançar a vida eterna
teve sua eternidade roubada pela serpente. A serpente ilustra perfeitamente a
finitude e limitação para a compreensão do todo e que a verdade não pode ser
apreendida plenamente.
Diferente das formas
e “fôrmas” definidoras e definitivas de ser humano que se impõe nas diversas
ciências, o ser humano na epistemologia mitológica é indefinido, ambíguo e
indecifrável. Ele fala apenas de um começo, de desdobramentos existenciais e
não de um telos, de um fim.
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