quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Homem mitológico


Edson Pereira

 O que define o ser humano como ser humano? Os mitos são a forma mais antiga e bem elaborada de definição, isto se, a palavra definição, que implica em exatidão de sentido e abstração possa abarcar toda ambiguidade, complexidade, profundidade que traspassa e limita todas as tentativas: antropológicas, científicas, filosóficas, históricas, psicológicas, sociológicas e teológicas que ao longo do engendramento de definir o ser humano como ser humano caíram nas teias do dogmatismo frio, fechado e enclausurado. Estas tentativas criaram sistemas e epistemologias que tornaram o ser humano um hiato de si e do outro perdido em meio ao vazio, ou num limbo existencial.
 No mito, o ser humano tem uma origem ambígua. Ambiguidade que se expressa em todas as dimensões da sua existência: imanência ou existência? Nisto consiste a complexidade humana derivada de diversos fatores culturais que lhes moldam e transfiguram a sua existência de acordo com as teias ou modelos dogmáticos, sistemáticos e epistemológicos que buscam suspender o ser humano em “fôrmas”, categoriais que podem descrever e, portanto definir o que é ser humano. Esquecem que as profundas e infindas lacunas no e do ser humano permitem uma aproximação e não definição. Na cosmogonia dos mitos temos a origem, o germe do ser humano, não sua forma definida, acabada. No mito babilônico, Gilgamesch é um belo exemplo da busca humana por respostas existenciais que até hoje são aporéticas: Qual é a origem humana? O que é o ser humano? Como o ser humano pode ser definido?
  Prefiro a epistemologia mitológica de ser humano do que todas as formas epistemológicas de definições que encasteladas em si provocaram uma cisão no ser humano. Assim como o herói da mitologia babilônica em sua tentativa de alcançar a vida eterna teve sua eternidade roubada pela serpente. A serpente ilustra perfeitamente a finitude e limitação para a compreensão do todo e que a verdade não pode ser apreendida plenamente.  
          Diferente das formas e “fôrmas” definidoras e definitivas de ser humano que se impõe nas diversas ciências, o ser humano na epistemologia mitológica é indefinido, ambíguo e indecifrável. Ele fala apenas de um começo, de desdobramentos existenciais e não de um telos, de um fim.                          

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