A
transcendência do tempo
O
tempo são marcas deixadas pela existência, que ele mesmo, o tempo, não pode
apagar. Por mais que ele, o tempo passe, suas marcas se manifestam em nossa
vida. Dores, feridas, alegrias, sensações, percepções e cheiros de memórias que
o senhor tempo não pode acabar. Nostalgias voltam e o tempo que era presente
tornar-se passado, e passado, torna-se presente. O tempo, o nosso tempo, já não
é tempo. Porque no vazio se perde, e tempo não existe no vazio.
Isso
faz uma cisão em nossa história de tempo e o seu posterior controle. Nosso
mundo e o mundo do tempo são diferentes enquanto tempo e dimensão. O ser humano
nunca vai compreender isso. E como pode uma parte conhecer o todo, se esta
parte não se conhece ainda? O tempo é um movimento constante, uma força, que
transcende a existência humana, fragmentada por ciências que picotam o ser
humano em peças que de acordo com cada interpretação torna-o como é.
Velho Heráclito, teu emblemático Rio nunca se
mostrou tão evidente, patente na existência humana que só os donos de verdades
estanques podem ignorar a força desse rio, do tempo que constrói, destrói, cria
e recria. Acho uma tolice se prender nestes sistemas em suas formas atuais:
enquanto o rio do devir corre impetuosamente, por troncos e barrancos - tudo
transformado e sempre transformando, sem deixar de ser, e, contudo, já não é,
porque já não é o mesmo, mesmo sendo o que é. Isso espanta e causa terror.
O
ser humano quer estabilidade, o lugar seguro para si que lhe dê sentido, um Telos, onde o tempo e sua realidade
estejam entrelaçados. O rio, e o tempo do rio não estão condicionados ao nosso
tempo, ele é indiferente aos nossos olhos e percepções. Querer controlar esse
fenômeno é transcendê-lo. Como transcender aquilo que nos transcende?
Edson Pereira
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