quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Diário de um dissidente



Prefiro o todo e não sua parte – os sistemas: seus problemas e antagonismos

Assim diz a voz do que clama num mundo fragmentado de sistemas: Os sistemas: são apenas sistemas de uma época, e como toda época pressupõe um sistema, aquele qual e tal sistema que prevalecer, será o portador da salvação. Continua a voz: mais como vocês podem ver: sistemas são apenas sistemas, fundidos na história através das religiões, das filosofias, ciências, políticas, economias, etc. E que dada por uma necessidade última, foram criadas para atender e responder todas as necessidades (últimas) que abarcam toda existência humana.
Como saber se qual e tal é o sistema verdadeiro: se todos na prática, em seu sentido amplo, isto é, institucional, foi um fracasso, no sentido existencial, ou seja, nas esferas da vida? Todos os sistemas hoje, são vozes que se perdem no mundo, numa sociedade alienada de si, do outro, da vida, em sua forma exterior e interior, pela fragmentação e decomposição do todo pela parte. Todos os sistemas, mesmo dada a sua abrangência e atemporalidade (pelo menos é o que pressupõem alguns), são respostas que refletem sua época, seu espírito temporal. Toda predição que se tem ideia, seja ela, em sua forma religiosa ou não: está condicionada a um determinado tempo e época, em que tal profecia foi anunciada, isto é, uma profecia era uma resposta imediata, para o problema contextual instalado. Não em sua forma cega, de um futuro, sem uma relação com o presente, como nos fundamentalismos, oriundos dos sistemas.
Buscar outro caminho é forçar o devir, a força criativa, o movimento impetuoso da vida, em todas as suas dimensões e implicações existenciais. O “pneuma” que move o mundo seja, na imanência, ou na transcendência; ou uma transcendência, por e na imanência; ou o seu contrário, isto é, ou uma imanência, por e na transcendência.  Ambas são antagônicas, quando separadas, vistas como partes, e não partes de um todo. Analisar o fenômeno a partir de fragmentos, de partes, que constituem o todo, é: delimitar, restringir, adoecer, afugentar a vida que se manifesta em relações, onde as partes estão conectadas com o todo, e o todo, com suas partes, isto é: um só é um, em sua relação com outro, este outro, o transcende por lhe ser exterior, mais que lhe é semelhante, isto é: ligadas, dependentes de uma relação de reciprocidade não a partir de fragmentações do todo, mais a partir do todo, que é tudo aquilo que lhe está conectado. Isto é, tudo aquilo (as partes) que constituem o todo.  

Edson Pereira  
     



            


segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Diário de um dissidente



Colado em Você

O vento soprou e trouxe você pra mim,

E como cola ficou, bem “grudadin”,

É tão gostoso ter você “juntin”,

Que a cada momento contigo meu mundo:

Perde-se,

                                  no infinito,

                                                    e  num mistério

sem fim...



É tão bom ficar “grudadin”,

Sentir o cheiro do teu corpo,

Que me embriaga de desejo,

E de amor sem fim,

Nessa hora o coração dispara,

O poeta se perde, com esse teu "cheirin".



Olhar dentro dos teus olhos,

É ver o céu carregado de estrelas,

Galáxias e planetas,

Tamanha é a beleza que minha alma:

 para o teu universo foi levada.

E de lá o coração não que mais voltar,

Por que é melhor, no teu universo ficar...



Cativado por ti foi: meu corpo, coração e alma;

 Quando ti vi pela primeira vez,

perdido fiquei, e sem palavra pra expressar.

Meu coração é duro feito pedra e insensível,

Mas desde daquele dia, e agora colado em ti, posso falar:

Que a melhor coisa do mundo é junto de você ficar.



Colado fico, colado vou ficando...

E sigo te amando

 no espaço do teu universo,

que  espanta com tamanho mistério..

meus olhos e imaginação;

E só, com o meu coração, vou ele perscrutar...

Enquanto isso, no teu corpo, grudado vou ficar. 

Edson Pereira

  

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Diário de um dissidente

Diz-me, o teu sistema, que eu digo onde esta teu Deus, tua salvação!



A aurora é chegada! Gritava o arauto de Zaratustra, Vinda a grande hora, segundo o oráculo, ao meio dia: rompia Zaratustra da caverna – É a epifania de um novo homem, de uma nova moral, de uma nova política, de uma nova religião; um homem de potência, um homem criador, um homem além de si, e que permanece em si, diante da realidade da vida, amando-a como ela é; o velho Deus foi superado, outros deuses mais poderosos surgiram com as luzes da grande “Razão”, logo, o que sobrou foi apenas, o único que em si, reunia todos os elementos que caracterizavam a força motriz da fé: o Cristo e este crucificado. A velha cruz e o Cristo, com a erupção destes novos deuses, seria apenas um símbolo, uma ilusão, uma fábula, uma quimera. E, portanto, toda sua promessa vindoura de um céu, onde toda dor e sofrimento humano seriam suplantados e a promessa da libertação do pecado original seria cumprida; agora substituído, por um novo céu e uma nova terra, criado pela grande “Razão”, o novo “deus”.

No evangelho de Zaratustra, e de todos os escritos que foram profetizados sobre ele, O Novo Homem, ele como uma centelha, da divindade Imanente, do pneuma, da pulsão que move o cosmo, o universo e tudo aquilo que o constitui, sempre com mais potência pela afirmação da vida – é esse homem que reúne todos esses elementos que ultrapassarão o Deus velho e os novos deuses, isto é, seus sistemas, suas promessas ocas, vazias, utópicas, alienadoras; que destroem, apagam e corroem com sua heteronomia dissimulada: toda vontade de potência, de vida, de ser, de afirmação, de criação.

Tudo parecia ser conforme Zaratustra havia profetizado, mas como o vento, o pneuma – a vontade de ser, de se refazer, de se recriar criando – sopra como quer, e com o tempo sempre muda a sua voz e movimento. Anos depois... Numa batalha em Champagne, na França, um descendente da linhagem de Zaratustra, tem um colapso nervoso que doravante mudaria toda a sua trajetória, isto é, toda a sua vida. Seu castelo filosófico e teológico sucumbiu, e tomaria, com uma nova fórmula, para desenvolver um novo sistema: um Novo Ser. E assim tentar, suplantar, o Super Homem, proclamado no quinto Evangelho – o Evangelho de Zaratustra.

A resposta foi dada, e este novo pregoeiro, de uma nova doutrina, reunia elementos do Deus antigo e do Deus em potência, além do Deus que se dá, ou que se manifesta no coletivismo. Os elementos que constituíam o Deus antigo agora ressignificado, que reúne elementos transcendentes que em si e de si e para si e por si é impossível apreendê-lo. Zaratustra no final da vida percebeu a profundidade do problema, e que ia além de sua percepção, caiu num imenso vácuo e perdido neste espaço vazio, nunca mais voltou. Seu espírito, sua vontade de potência foi arrebatada e seu corpo ficou em um estado de demência, mas uma demência consciente, dolorida. E logo depois, Zaratustra entrou na escuridão da morte e não temos mais notícia do seu estado...

Contudo, o que importa é que no meio do vácuo, desse espaço vazio, que reflete o infinito e o finito, onde luz e trevas, caos e vida, onde tudo constrói e se destrói por si, de si, para si e por meio de si e em si.  Zaratustra teve uma visão: que a encarnação do Novo homem, do deus homem – Dionísio tinha uma descendência Divina, a potência que move e transforma o mundo, perpassava toda previsão e espiritualidade de Zaratustra, e isso, se explica em seu estado limite, de finitude, de angustia e de morte. 

Assombrado, com a visão, percebeu que o Deus velho, não foi ofuscado completamente de Dionísio, seu filho amado.  O filho do Deus velho reviveu: o vento da vontade de ser, soprou, e ele apodrecido pela filosofia da religião e da própria teologia, do dogma e de toda heteronomia que se impõe na moral, na política, na economia, na educação, na vida em si, de si e para si –  irrompe, ressuscita numa nova relação que inclui outro, um Novo Ser, que reúne todos os elementos: em si, de si e para si; e que se manifesta na sua relação com outro e para o outro. Agora, toda alienação individual e social e religiosa seria suplantada. Dionísio perdeu a sua força, ele não traz toda a potência, lhe falta uma parte, sua dimensão metafísica: vocifera uma voz, dentro do vácuo, para Zaratustra. Depois da visão, Zaratustra tem um colapso mental, seu espírito se perde no espaço vazio e contraditório.

A noite chegou! O Deus esquecido, o velho Deus vocifera para sua palavra adormecida, amorfa e mofada, cristalizada, endurecida, petrificada pelo sistema, que o transformaram em um Deus velho. E agora ressurge, um Novo Ser, não mais crucificado e apodrecido pelo sistema, é o que diz – a nova profecia.

Depois disso o mundo entrou em colapso. Surgem velhos e novos Deuses, mais fortes, robustos ressignificados, transformados, com mais potência, força e que contraditoriamente, caíram num vácuo, se perderam em seus castelos e escolas teológicas, filosóficas, sociológicas, científicas, etc., isto é, nos seus sistemas.

Desde o tempo, em que as mais remotas profecias sobre o homem e sua liberdade, sua afirmação para a vida em sua plenitude, teria que vencer, superar um problema que se contrapõe e, o priva de sua liberdade: uma ferida que se deu entre, a sua essência e existência, e que até hoje não sabemos a causa, a origem em si. O que sabemos, é o que a experiência diz, e que, a causa em si do problema, não pode ser descrita em sua plenitude, exatidão. Ela é uma incógnita, um mistério, que só é conhecida em parte, logo não se pode tomar a parte, pelo todo. Por isso, a linguagem como símbolo é apenas: um meio, uma forma, que aponta para além do ser em si. O que pode ser descrito é apenas seus efeitos na relação do elemento individual, social, concreto de sua existência, e com o elemento do Novo Ser, que seria a união da dimensão transcendente, com a imanente.  Trazida pelo Novo Ser, a promessa agora seria de dar ao ser humano uma dimensão chamada teonomica, onde o transcendente atua com e na imanência, na e através da história humana, logo segundo, essa nova doutrina, O Novo Ser, libertaria o ser humano daquilo que este sistema vai chamar de alienação existencial.    

Todavia, o problema continua, o ser humano está perdido em meio a tantos sistemas, propostas de salvação, de libertação do ser humano. E hoje mais do que nunca a humanidade clama, suspira, anela liberdade. Isso reflete a efervescência de novos ídolos: deuses velhos, novos e ressignificados que apresentam várias formas de Salvação, isto é sistemas. Será que o problema não é o sistema? Logo, não era o sistema, que o filho do Deus velho, agora ressignificado como Novo, que reúne em si, o transcendente e o imanente; e  Dionísio, que atua apenas numa imanência, e que faz dessa imanência, sua própria transcendência, não seria contra esse sistema que ambos lutavam?

No entanto, o panteão não para de crescer, tem deuses pra todos os gostos, e desde o iluminismo, a ciência hoje, tem proeminência, entre o panteão sagrado. Pelo visto precisamos de buscar não um sistema, com seus códigos e dogmas, mais a liberdade, que os sistemas de salvação falam. E aí esta o problema, o enigma, o mistério da liberdade e da sua restrição – alienação, pecado? – que continua colocando as corujas velhas e novas da deusa minerva, não só para trabalhar de noite, mas agora, também durante o dia. E daqui do meu lugar só vejo vácuo – um espaço vazio, um nada.  

Edson Pereira 
   


Diário de um dissidente






Cristianismo! Sim, só que à moda brasileira!




No blog http://www.paulopes.com.br/2017/02/pais-de-ateus-holanda-fecha-prisoes-por-falta-de-criminosos.html?m=1#.Wg4qx7VrzIW, referenciado pela revista Superinteressante, o autor, no título do seu texto, mostra e enfatiza, que a Holanda, por ser, um país “ateu”, (o que não é verdade na prática, na vida cotidiana, comunitária e institucional; contudo, nossa abordagem, não tem esses “dados” como fundamento), conclui que, o problema da falta de presos, isto é, o fechamento do sistema carcerário na Holanda é decorrente do ateísmo, que margeia, mais da metade da população. Em seguida faz uma contraposição, com o sistema carcerário brasileiro e desfere acertadamente, algumas críticas aos políticos religiosos do Brasil.

 Não vou me deter neste último argumento implícito no título, ele é sem fundamento, tem outras implicações por traz deste fenômeno no sistema prisional da Holanda, (logo somos instigados a fazer uma análise mais profunda, transdisciplinar); mas a ideia que ele originou disso, neste caso, com o discurso-político-religioso-brasileiro. É o que vou tentar expor a seguir.

 Correlacionando a nossa realidade brasileira, isso mostra claramente que caráter, ética, espiritualidade e coesão social, não estão relacionados, a ser ou não ser, religioso. Logo a falácia que diz " se Deus não existir, então tudo é permito" vai por água abaixo. No que se refere à religião, como muito bem colocou Slavoj citando Lacan, diz: “Se Deus existir, então tudo é permito".

É só da uma olhadinha na história das religiões, em nosso caso o cristianismo, e mais especificamente no Brasil, onde um "cristianismo", amorfo, sem sal, sem sabor, sem vida tem gerado: um "exército" (a maioria constituída de religiosos ignorantes das escrituras; alienados, dependentes de prédicas e livros, que apenas atestam suas crenças e assumem um compromisso ideológico-político (as vezes sem saber o que significa isso) com sua denominação, ou líder, pensando que estão fazendo por amor a Cristo e ao Evangelho, enquanto o que na verdade estão é espalhando  ódio, desamor, intrigas, confusão, engano e ilusão) de fundamentalistas que gritam, berram, ameaçam e espancam em nome de “Deus”, fundamentados, numa, dentre as várias interpretações que a Bíblia por sua complexidade impõe ao exegeta e interprete e acabam corrompendo o “Evangelho de Cristo” apresentado nos sinóticos e no Evangelho de João.

Quando são chamados para dar testemunho da fé, em vez de responderem como ordenava Pedro, na sua primeira carta, no capítulo 3, e no verso15, comportar-se como seguidores de Cristo, agindo com "mansidão e reverência diante de todo o que pedir razão da esperança que há em voz", isso não existe no Brasil, pelo menos, no cristianismo de fachada, de moral dúbia, de fé deformada e dogmatizada, de uma política mentirosa e que desonra o "nome de Deus", conforme o segundo mandamento.

Por isso, quando esse cristianismo argumenta, que isso que estão fazendo com estes "pecadores" é uma demonstração de fé e amor a Cristo, é na verdade uma armadilha, como diz Slavoj uma "armadilha, obviamente, é que se você realmente amar a Deus, você vai querer o que ele quer - o que o agrada agradará você, e o que o desagrada fará de você um miserável. Então não é que você simplesmente possa "fazer o que quer": seu amor por Deus, se verdadeiro, garante que você seguirá os padrões éticos mais supremos naquilo que quiser fazer".

Sinceramente olhando os Evangelhos, não encontro um amor de cristo que exclui, que persegue, odeia, lança imprecações, agride, etc. Eu tenho o diagnóstico para isso: uma vez que o cristianismo torna-se insípido, ele apodrece e se decompõe, porque o “Ruah de Deus”, isto é, o “Espírito Santo”, não habita em templos de Homens (condicionam, cristalizam, dogmatizam Deus a uma doutrina) feitos para usar o nome Deus em vão.

Logo, isso que vemos nas redes sociais, nas prédicas nos templos: é apenas uma voz muito parecida com aquelas que foram denominadas por Cristo de sepulcros caiados; e que depois em Mateus, o autor fala da diferença de Jesus (do Evangelho) e dos escribas (que representa muito bem esse cristianismo fundamentalista brasileiro atual) que diz assim: "Aconteceu que ao terminar Jesus essas palavras, as multidões ficaram extasiadas com o seu ensinamento, porque as ensinava com autoridade e não como os seus escribas". É esse o problema, o cristianismo a moda brasileira, não tem autoridade, não tem vida, não tem testemunho, lhes faltam aquilo que segundo Cristo tornaria os seus discípulos conhecidos, pelo poder e autoridade que emana de "Deus": o amor.

Edson Pereira